segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Precisamos mesmo ser tão críticos?

Sem querer começar falando da minha infância nem nada, quando eu era criança, adorava um quadro que ficava no atelier da minha mãe. Nós (eu e ela, não o quadro) nos mudamos algumas vezes, e aquela pintura lá, sempre junto. Beleza, cresci e minha mãe me deu o quadro de presente. Fofo, né? Mas ainda não cheguei ao meu ponto. Pendurei o quadro no meu quarto e só aí reparei que tinha um descascadinho no lado superior esquerdo dele. Inho, mesmo. Só dava pra ver bem de perto. Provavelmente, tinha sido eu a culpada, na hora de transportar o presente. Enfim: os dias se passavam e eu não conseguia mais admirar a pintura. Quando eu olhava pra ela, meus olhos iam direto para o descascadinho. Comecei a ficar bem histérica. Não com a tela, mas comigo. Sério: tinha 99,8% de quadro perfeito. Por que eu teimava em olhar para o 0,2%?

Sem querer transportar a questão do quadro pra vida, mas transportando, comecei a reparar como, às vezes, tudo está quase perfeito, mas nos focamos justamente nesse “quase”. Minha nova roupa é linda, mas a cor da calça dela é estranha... A foto que eu tirei ficou ótima, mas esse meu fio de cabelo fora do lugar... Tudo está tranqüilo, mas esses 3kg a mais... Minha amiga é ótima, mas a risada dela... Argh! Tudo bem, não dá pra ver só as coisas boas à nossa volta e achar que o mundo é um pão-de-ló (bem, inventei essa expressão). Mas, quando tudo está quase lá, precisamos mesmo ser tão críticos? Por exemplo: se nossa vida está cheia de coisas legais, menos a discussão que tivemos com nossos pais, uma discussão precisa contaminar o resto da nossa vida, a ponto de só pensarmos nisso e fecharmos a cara?

Tenho uma amiga (eu sempre uso minhas amigas para os exemplos ruins, mas o que eu posso fazer? Citar meu cachorro? E eu nem tenho cachorro) que é exatamente assim. Coincidência ou não, ela é virginiana (pra quem não lê horóscopo: os virginianos têm essa fama de se focar no descascadinho do quadro). O caso é: se ela dá uma festa e, sei lá, o brigadeiro ficou mole demais, ela é capaz de deixar de curtir porque está com a cabeça na frustração do brigadeiro. Virginianos ou não, acho que todos nós desperdiçamos bons momentos deixando que o lado ruim sobressaia. Na verdade, acho que isso é preferível a ser uma pessoa relapsa que aceita qualquer foto, qualquer roupa, qualquer vida. Mas espere um pouco, né? Faz mais sentido adotarmos o caminho do meio, como diria o Dalai-Lama, ou o Buda, sei lá. Se o seu trabalho não é, digamos, escolher as fotos que vão sair numa revista, precisa tanta paranóia com o fio de cabelo?

Bem, mas vamos voltar ao quadro, porque eu amo terminar o post complementando o que eu escrevi no primeiro parágrafo. Decidi que ia mandá-lo para algum lugar que faça restauração, mas depois desencanei. É que, com o tempo, o descascadinho foi parando de me incomodar tanto. Ainda bem, né? Na boa, minha casa não é uma galeria de arte e eu posso ser super feliz com uma pintura imperfeita. Aliás, agora, estou escrevendo de frente pra ela. Pro quadro, não pro descascadinho, afinal, ele só corresponde a 0,2% do total.

2 comentários:

  1. Positividade a toda prova.
    Adoro ler seus textos... são excelentes injeções de animo.
    Obrigada por contribuir com um sorriso no meu dia.

    =)

    ResponderExcluir
  2. Anna, adoro seus textos, haha. (: me identifiquei com esse aí um pouco, principalmente com sua amiga do mesmo signo que eu. haha Continue escrevendo aí, ok? :]

    ResponderExcluir