Sem querer começar falando da minha infância nem nada, quando eu era criança, adorava um quadro que ficava no atelier da minha mãe. Nós (eu e ela, não o quadro) nos mudamos algumas vezes, e aquela pintura lá, sempre junto. Beleza, cresci e minha mãe me deu o quadro de presente. Fofo, né? Mas ainda não cheguei ao meu ponto. Pendurei o quadro no meu quarto e só aí reparei que tinha um descascadinho no lado superior esquerdo dele. Inho, mesmo. Só dava pra ver bem de perto. Provavelmente, tinha sido eu a culpada, na hora de transportar o presente. Enfim: os dias se passavam e eu não conseguia mais admirar a pintura. Quando eu olhava pra ela, meus olhos iam direto para o descascadinho. Comecei a ficar bem histérica. Não com a tela, mas comigo. Sério: tinha 99,8% de quadro perfeito. Por que eu teimava em olhar para o 0,2%?
Sem querer transportar a questão do quadro pra vida, mas transportando, comecei a reparar como, às vezes, tudo está quase perfeito, mas nos focamos justamente nesse “quase”. Minha nova roupa é linda, mas a cor da calça dela é estranha... A foto que eu tirei ficou ótima, mas esse meu fio de cabelo fora do lugar... Tudo está tranqüilo, mas esses 3kg a mais... Minha amiga é ótima, mas a risada dela... Argh! Tudo bem, não dá pra ver só as coisas boas à nossa volta e achar que o mundo é um pão-de-ló (bem, inventei essa expressão). Mas, quando tudo está quase lá, precisamos mesmo ser tão críticos? Por exemplo: se nossa vida está cheia de coisas legais, menos a discussão que tivemos com nossos pais, uma discussão precisa contaminar o resto da nossa vida, a ponto de só pensarmos nisso e fecharmos a cara?
Tenho uma amiga (eu sempre uso minhas amigas para os exemplos ruins, mas o que eu posso fazer? Citar meu cachorro? E eu nem tenho cachorro) que é exatamente assim. Coincidência ou não, ela é virginiana (pra quem não lê horóscopo: os virginianos têm essa fama de se focar no descascadinho do quadro). O caso é: se ela dá uma festa e, sei lá, o brigadeiro ficou mole demais, ela é capaz de deixar de curtir porque está com a cabeça na frustração do brigadeiro. Virginianos ou não, acho que todos nós desperdiçamos bons momentos deixando que o lado ruim sobressaia. Na verdade, acho que isso é preferível a ser uma pessoa relapsa que aceita qualquer foto, qualquer roupa, qualquer vida. Mas espere um pouco, né? Faz mais sentido adotarmos o caminho do meio, como diria o Dalai-Lama, ou o Buda, sei lá. Se o seu trabalho não é, digamos, escolher as fotos que vão sair numa revista, precisa tanta paranóia com o fio de cabelo?
Bem, mas vamos voltar ao quadro, porque eu amo terminar o post complementando o que eu escrevi no primeiro parágrafo. Decidi que ia mandá-lo para algum lugar que faça restauração, mas depois desencanei. É que, com o tempo, o descascadinho foi parando de me incomodar tanto. Ainda bem, né? Na boa, minha casa não é uma galeria de arte e eu posso ser super feliz com uma pintura imperfeita. Aliás, agora, estou escrevendo de frente pra ela. Pro quadro, não pro descascadinho, afinal, ele só corresponde a 0,2% do total.
Positividade a toda prova.
ResponderExcluirAdoro ler seus textos... são excelentes injeções de animo.
Obrigada por contribuir com um sorriso no meu dia.
=)
Anna, adoro seus textos, haha. (: me identifiquei com esse aí um pouco, principalmente com sua amiga do mesmo signo que eu. haha Continue escrevendo aí, ok? :]
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