sábado, 20 de novembro de 2010

Escolhas entre A ou B

Hoje, saindo do cinema, ouvi a conversa de duas amigas. Uma estava suspirando pelo filme, uma comédia romântica, e a outra saiu com uma cara mega crítica, sabe como é, ? Daí essa da cara crítica começou a reclamar que aquelas duas horas não tinham acrescentado nada à vida dela. “Só gosto de filme cabeça”, sentenciou. Daí a amiga suspirante ficou toda bravinha e começou a discursar sobre como filme cabeça é chato e como comédia romântica é legal: “Quando vou ao cinema, não quero pensar: quero me divertir!”. Daí a outra amiga respondeu... Bom, na verdade não sei o que ela respondeu por que segui meu caminho, ? Não ia ficar ouvindo as duas pra sempre. O caso é que fiquei pensando: por que a gente tem essa mania de criar rivalidade entre as coisas?

Pode reparar, é como se, muitas vezes, a gente ficasse se forçando a tomar partido. Você ouve rock ou sertanejo? Prefere campo ou praia? Loiro ou moreno? Carne vermelha ou peixe? Suco ou refrigerante? Ficar ou namorar? Aaaaah! Parece que o tempo todo temos que marcar um “x” nas opções.

Uma vez, na escola, me perguntaram se eu era do time das que preferiam matemática ou português. Eu tinha uns 9 anos e, quando você tem essa idade e perguntam uma coisa dessas, você se sente meio encurralada. A pessoa tinha colocado um “ou” na pergunta, o que deixava claro: eu só tinha uma opção. Pensei e respondi: português. Sem querer fazer drama sobre a vida colegial nem nada, passei esse tempo todo conformada ao meu destino de ser boa em português e ruim em matemática. E não precisava ser assim! Anos depois é que eu vi que tinha gente boa nas duas coisas, que eu podia gostar de matemática e continuar gostando de português.

Voltando ao filme, toda vez que alguém pergunta de que tipo de filme eu gosto, fico tentada a responder baseada nos últimos que vi, mas a verdade é que meus filmes preferidos variam de acordo com minha fase de vida. Aliás, variam num mesmo fim de semana! Mas, mesmo que eu sempre amasse os mesmos tipos de filme, por que teria que criar uma rixa entre esse tipo de filme que amo e os outros? Por que defender um e detonar o outro, como se estivesse escolhendo um candidato pra votar?

Uma das coisas que acho mais legais na arte é a diversidade. É incrível ter acesso a tantos tipos de música, livros, etc. Essa variedade atende não só pessoas diferentes, como a mesma pessoa em diferentes momentos. Pra que abrir mão disso? Fico pensando se essas pessoas que defendem ardorosamente um tipo de coisa gostariam que a outra opção sumisse do mundo só porque elas não gostam. Você, eu não sei, mas eu acho que isso seria um empobrecimento desnecessário da arte.Da mesma forma, acho que escolher categoricamente entre ficar/namorar, loiro/moreno, matemática/português é um empobrecimento da vida. A gente muda, nossos gostos variam e nossas ideias, felizmente, não são fixas. Pra que trocar o “e” pelo “ou”? Talvez seja mais fácil escolher se o copo está meio cheio ou meio vazio, mas a verdade é que ele está meio cheio E meio vazio – de refrigerante ou de suco, dependendo do dia. E tudo bem!

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Os outros e as mudanças

Outro dia, reencontrei uns amigos do antigo curso. Papo vem, papo vai, começamos a nos lembrar de casos sobre nossa colega R. Nossa, ela era terrível. Ela tratava todo mundo bem, mas, quando a gente menos esperava, lá estava ela fazendo coisas de filme, tipo falar pro cara mais feio do curso que você é super afim dele. Ela fazia tudo com a maior cara e inocente, tipo “Ops, eu disse isso? Que cabeça a minha”, deixando todos confusos. Enfim. Começamos a nos perguntar por onde anda a R. e, quando vimos, estávamos fazendo comentários fofos, como “ela deve estar trabalhando como serial killer”. Mas, a uma determinada altura da noite, percebemos uma coisa: esses casos terríveis sobre a R. não aconteceram semana passada. Aconteceram há mais de 1 ano! A questão é: quem disse que a R. não pode ter mudado de lá para cá?

Você já deve ter percebido que tem uma incrível capacidade de mudar: de ideia, de estilo de roupa, de opinião, de tudo. Todas as pessoas mudam o tempo todo – a não ser que tenham uma vida bem entediante. Nossas experiências, leituras e conversas vão alterando nosso jeito de ser, de ver, de pensar.

Mas se, por um lado, reconhecemos nossas mudanças e até nos orgulhamos de algumas delas, por outro percebo que temos uma tendência a achar que os outros continuam os mesmos. Puxa, em mais de 1 ano, é claro que a R. pode ter mudado seu jeito de ser. Ela pode ter feito terapia, ela pode até ter se mudado para o Tibete, onde passa os dias meditando: faz tanto tempo que não temos notícias dela! É no mínimo pretensioso pensar que ela é estática, enquanto eu e meus amigos estamos aqui, superdinâmicos, tentando nos aperfeiçoar e tal – não sei você, mas eu tenho pavor de pensar em viver sem fazer isso. Verdade que considero o passar do tempo não uma linha contínua para o alto e avante, mas uma curva cheia de avanços e retrocessos – mas, de qualquer forma, luto para ser uma velhinha sábia no futuro!

Voltando: acho que a gente também tem a péssima mania de achar que desenvolvemos talentos ao longo do tempo enquanto os outros não melhoram. É meio injusto achar que aquela garota que hoje é atriz deve atuar mal porque atuava mal na escola, ou que o fulano que, sei lá, não sabia trabalhar em equipe da última vez que o vimos continua sem saber. Não é só a gente que aprende, vai.

Fico pensando: se achamos que as pessoas não mudam, como dar uma nova chance a elas: se eu encontrar a R. na rua um dia, preciso mesmo olhar pra ela pensando na psicopata que ela foi a um tempo atrás? Claro, ela pode, digamos, ter aprendido a desenhar, mas não ter mudado muito no quesito confiabilidade e, sei lá, tentar roubar meu namorado (embora eu não tenha um no momento). Mas fico achando que é muito melhor dar uma chance de ver quem é a R. de agora e parar, inclusive, de olhar pra ela pensando em palavras como “psicopata”. As pessoas nos surpreendem o tempo todo, e acho maravilhoso nos abrirmos para as mudanças delas. Claro, não preciso deixar meu futuro namorado perto dela enquanto faço essa experiência, mas você entendeu.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Eu quero, eu posso... eu consigo?

Eu não tinha nenhum preconceito com livros de autoajuda, mas também nunca tinha lido um. Não que eu quisesse me autoajudar, mas já fiz terapia, sempre leio meu horóscopo, já deu, né? Acontece que, nesses dias que fiquei sem escrever, fui na casa de uma amiga que estava superempolgada com um livro desses. Não lembro o nome, mas era algo como “Encontre sua estrela interior”. Ela só sabia falar que a estrela dela era isso, que a estrela dela era aquilo. Aí resolvi dar uma folheada no livro. Afinal, essa sabedoria deveria ser mesmo estrelar.

Logo nas primeiras páginas, fiquei irritada com a quantidade de regras do livro. Parecia minha mãe, quando eu tinha 7 anos (não que ela tenha mudado muito de lá pra cá). Fiquei meio com antipatia, sabe? Mas continuei lendo. O autor tinha todo um sistema de normas que eu não sabia de onde vinham, mas ok, eu também não entendo astrologia e leio meu horóscopo. O que me incomodou mesmo foi essa coisa de “eu quero, eu posso, eu consigo!”. Parece que todo mundo que usa a tal da estrela interior tem que ter a autoestima elevada, entendendo que pode e consegue tudo, e, se não puder/conseguir, é porque está faltando pensamento positivo e tal. Pera lá. Que cobrança é essa? E desde quando pensamento positivo virou solução pra tudo?

Eu não sei/posso tudo. Na verdade, sem querer pagar de humilde nem nada, estou bem longe disso. Além de não poder voar nem respirar debaixo d’água, não consigo fazer várias contas de cabeça ou passar numa prova sem estudar – e, mesmo que eu estude, pode ser que no fim eu acabe não passando, ué. Não posso ser mais bonita que a Gisele Bündchen, não consegui evitar alguns pés na bunda ao longo de um ano... Mas e daí?

Eu não sei muito bem o que é felicidade (como eu disse no primeiro post desse blog), mas nunca achei que é feliz quem pode e consegue fazer tudo (aliás, essa pessoa mágica teria que viver num tempo infinito, pra conseguir fazer tudo!). Quanto ao pensamento positivo, realmente ele é incrível, mas calma lá, né? Se você se esforçar e pensar positivamente, ainda assim pode se frustrar em algumas situações (porque seu esforço não bastou, porque não era pra ser, sei lá por que). Terminando, acho que essa coisa de poder tudo tem mais a ver com autoilusão. Posso muito bem me amar tendo consciência dos meus limites, não? Amo minhas amigas, e elas são tão limitadas! Brincadeira! Não sei você, mas sinto um alívio danado quando penso que não tenho a menor obrigação de acertar sempre.

Fechei o livro desanimada com minha estrela interior. Não vou dizer que nunca mais folharei nenhum livro de autoajuda, mas, desses que partem do pressuposto de que temos que nos achar o máximo para gostarmos de nós mesmos e conseguirmos o que queremos, dispenso. Deve ser bem frustrante esbarrar em algum obstáculo quando você se acha a rainha da cocada preta. E, como você já deve ter percebido, vira e mexe a gente esbarra em algum obstáculo: eu, você e nossas estrelas interiores. E tudo bem se, nessa hora, a gente chorar e perceber que não somos perfeitos, nem nós, nem a vida. Quem disse que não há beleza na imperfeição?