Hoje, saindo do cinema, ouvi a conversa de duas amigas. Uma estava suspirando pelo filme, uma comédia romântica, e a outra saiu com uma cara mega crítica, sabe como é, né? Daí essa da cara crítica começou a reclamar que aquelas duas horas não tinham acrescentado nada à vida dela. “Só gosto de filme cabeça”, sentenciou. Daí a amiga suspirante ficou toda bravinha e começou a discursar sobre como filme cabeça é chato e como comédia romântica é legal: “Quando vou ao cinema, não quero pensar: quero me divertir!”. Daí a outra amiga respondeu... Bom, na verdade não sei o que ela respondeu por que segui meu caminho, né? Não ia ficar ouvindo as duas pra sempre. O caso é que fiquei pensando: por que a gente tem essa mania de criar rivalidade entre as coisas?
Pode reparar, é como se, muitas vezes, a gente ficasse se forçando a tomar partido. Você ouve rock ou sertanejo? Prefere campo ou praia? Loiro ou moreno? Carne vermelha ou peixe? Suco ou refrigerante? Ficar ou namorar? Aaaaah! Parece que o tempo todo temos que marcar um “x” nas opções.
Uma vez, na escola, me perguntaram se eu era do time das que preferiam matemática ou português. Eu tinha uns 9 anos e, quando você tem essa idade e perguntam uma coisa dessas, você se sente meio encurralada. A pessoa tinha colocado um “ou” na pergunta, o que deixava claro: eu só tinha uma opção. Pensei e respondi: português. Sem querer fazer drama sobre a vida colegial nem nada, passei esse tempo todo conformada ao meu destino de ser boa em português e ruim em matemática. E não precisava ser assim! Anos depois é que eu vi que tinha gente boa nas duas coisas, que eu podia gostar de matemática e continuar gostando de português.
Voltando ao filme, toda vez que alguém pergunta de que tipo de filme eu gosto, fico tentada a responder baseada nos últimos que vi, mas a verdade é que meus filmes preferidos variam de acordo com minha fase de vida. Aliás, variam num mesmo fim de semana! Mas, mesmo que eu sempre amasse os mesmos tipos de filme, por que teria que criar uma rixa entre esse tipo de filme que amo e os outros? Por que defender um e detonar o outro, como se estivesse escolhendo um candidato pra votar?
Uma das coisas que acho mais legais na arte é a diversidade. É incrível ter acesso a tantos tipos de música, livros, etc. Essa variedade atende não só pessoas diferentes, como a mesma pessoa em diferentes momentos. Pra que abrir mão disso? Fico pensando se essas pessoas que defendem ardorosamente um tipo de coisa gostariam que a outra opção sumisse do mundo só porque elas não gostam. Você, eu não sei, mas eu acho que isso seria um empobrecimento desnecessário da arte.Da mesma forma, acho que escolher categoricamente entre ficar/namorar, loiro/moreno, matemática/português é um empobrecimento da vida. A gente muda, nossos gostos variam e nossas ideias, felizmente, não são fixas. Pra que trocar o “e” pelo “ou”? Talvez seja mais fácil escolher se o copo está meio cheio ou meio vazio, mas a verdade é que ele está meio cheio E meio vazio – de refrigerante ou de suco, dependendo do dia. E tudo bem!