domingo, 19 de dezembro de 2010

O fim da história importa mais que o resto?

Mês passado, uma amiga veio aqui em casa, começamos a conversar sobre literatura e acabei, meio a contragosto, emprestando um livro para ela (sim, sou essa pessoa chata que não gosta de emprestar livros! Ninguém devolve! Sei disso porque estou cheia de livro dos outros em casa). Bom, depois que emprestei, fiquei toda curiosa para saber o que ela tinha achado. Ela não costuma ler muito, mas eu tive certeza que, desse livro, ela ia gostar. Depois de 2 semanas enrolando, ela finalmente começou a ler. Daí, um dia, ela entra no MSN e fala: “Terminei o livro.” Pergunto: “E aí?” E ela responde: “Ah, não gostei do final”.

Sério. “Não gostei do final”: isso é tudo o que ela tinha a dizer? Suspirei e perguntei o que ela achou, então, das outras 290 páginas, já que não tinha curtido as últimas dez. “Ah, sei lá, achei que a história ia acabar indo para outro lado”, ela respondeu. De novo, a danadinha focada no final. Desisti e não comentei mais sobre o livro (a não ser para cobrar a devolução). E fiquei pensando: quantas vezes a gente não dá muito mais valor ao final das coisas do que à história toda?

Nem é só com livros ou filmes. Tem gente que tem um namoro perfeito, que durou três anos felizes, sem nenhuma discussão. Ok, isso não existe. Mas, enfim, o namoro foi lindo a maior parte do tempo e teve um final péssimo – digamos, o cara se apaixonou por uma menina e ambos fugiram para o Caribe. Por que essa parte tem que apagar os três anos inteiros, como se eles não tivessem valido a pena?

Tenho uma prima que ama com todo o amor dela detonar o ex porque ele a largou de repente (embora não tenha fugido para o Caribe com ninguém). Hoje, ela já está toda feliz com outra pessoa, mas, se você pergunta sobre aquele namoro, ela já vai respondendo que foi uma história sofrida, que quase morreu e tal. Ou seja, os momentos em que os dois tomavam sorvete, os passeios, a harmonia, tudo sumiu, e ficou só um cara sem coração e um fim horrível. Pior, ficou aquela sensação de “não deu certo”. Aliás, se tem uma coisa que sempre detestei é quando alguém pergunta “Ahhh, mas por que não deu certo?”. Só porque acabou não deu certo? Para mim, passar um tempão feliz com alguém é, sim, dar certo com essa pessoa, vai.

Uma vez, um amigo meu, super neurótico com dieta, ficou tão encanado com o tanto que tinha comido numa festa que foi embora para casa de cara fechada, depois de uma noite bem divertida. Também tenho uma amiga que, no último dia de viagem de um mês, quebrou um dedo e ficou tão mal-humorada que nem gosta de se lembrar da viagem. Sério, foram tantos dias ótimos, mas ela só se foca no último. Já me peguei fazendo isso também: encanando com a parte chata de uma conversa que, pela noite inteira, foi tão agradável; recordando justamente a hora de um encontro que não foi legal. Por quê?

Pode ser hábito, pessimismo, memória ruim. Sei lá. Só sei que eu, até o fechamento desse post, não faço a menor ideia se existe vida depois da morte. Sem querer ser mórbida nem nada, se não existir, a gente vai ter que se contentar com um final bem sem graça para nossa trajetória: puf, sumimos. E aí, a vida valeu menos a pena por causa disso? Não acho. Prefiro me focar nas 290 páginas que eu aproveitei.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Neuras natalinas

Odeio essa coisa de dividir as pessoas em dois grupos: quem prefere praia ou campo, o pai ou a mãe, namorar ou ficar; e já disse isso várias vezes aqui no blog. MAS, como vocês já devem ter percebido, coerência não é meu forte e vou começar a coluna dividindo os mais de 6 bilhões de habitantes do mundo entre os que gostam e os que não gostam de Natal (desconsidere os povos que não comemoram o Natal, para não estragar minha estatística e continuemos).

Dentro dos que não gostam do Natal, temos a facção radical, que briga com a família e se recusa a comemorar a data – uma mera imposição social e mercadológica na visão deles. Esses são os malas. Dentro dos que gostam de Natal, há um subgrupo moderado, que engloba os que gostam da data (como já foi dito, dã), mas reconhecem que ela é uma rica e dinâmica fonte de problemas, estresse, frustração e histeria. Mesmo conscientes disso, lá estão os integrantes desse grupo, ano após ano, aguardando ansiosos pela data. É nesse subgrupo que eu me encaixo.

Convenhamos: tão ou mais improvável do que ganhar na loteria é ganhar um presente legal no amigo secreto. Ou você vai ganhar uma blusa que não faz seu estilo, ou um CD de um cantor obscuro, ou aquele chocolate que é justamente o que você não come. Pra piorar, você vai dar uma coisa legal porque, afinal, você é legal (estou escrevendo esse post para as pessoas legais). Ah, esse presente legal que você deu vai pro buraco negro dos presentes legais do amigo secreto porque, como eu disse, ninguém ganha um presente legal no amigo secreto.

Mesmo precisando perder 2 kg para a praia, você vai comer demais na ceia e passar o dia seguinte arrependida (enquanto come a comida requentada da ceia). Mesmo tendo se comprometido a não brigar com sua família e a fazer um Natal típico de propaganda de peru/chester/essas aves loucas dessa época, você vai armar um escândalo por causa de alguma coisa que sua mãe disse e vai ficar histérica. E, mesmo gostando da data, você vai ficar irritada por se sentir obrigada a gostar da data – porque é muito chato ser obrigada a gostar de alguma coisa e você é do grupo de que gosta de Natal!

Bom, mas quem se importa? Quando você pensa na árvore toda colorida, na família falando besteira e dando risada, no tio sem-noção que pergunta pelo seu novo namorado na frente do seu pai e a faz morrer de vergonha, na expectativa de receber uma coisa incrível no amigo secreto (não vai acontecer, mas é bonito ter expectativa), na lembrança que daqui a pouco o Réveillon vem e o ano acaba e você está cheia de planos... pimba: depois da festa, você dorme na sua cama quentinha, feliz por mais um Natal. Afinal, quem não gosta de Natal é mala, lembremos!

sábado, 20 de novembro de 2010

Escolhas entre A ou B

Hoje, saindo do cinema, ouvi a conversa de duas amigas. Uma estava suspirando pelo filme, uma comédia romântica, e a outra saiu com uma cara mega crítica, sabe como é, ? Daí essa da cara crítica começou a reclamar que aquelas duas horas não tinham acrescentado nada à vida dela. “Só gosto de filme cabeça”, sentenciou. Daí a amiga suspirante ficou toda bravinha e começou a discursar sobre como filme cabeça é chato e como comédia romântica é legal: “Quando vou ao cinema, não quero pensar: quero me divertir!”. Daí a outra amiga respondeu... Bom, na verdade não sei o que ela respondeu por que segui meu caminho, ? Não ia ficar ouvindo as duas pra sempre. O caso é que fiquei pensando: por que a gente tem essa mania de criar rivalidade entre as coisas?

Pode reparar, é como se, muitas vezes, a gente ficasse se forçando a tomar partido. Você ouve rock ou sertanejo? Prefere campo ou praia? Loiro ou moreno? Carne vermelha ou peixe? Suco ou refrigerante? Ficar ou namorar? Aaaaah! Parece que o tempo todo temos que marcar um “x” nas opções.

Uma vez, na escola, me perguntaram se eu era do time das que preferiam matemática ou português. Eu tinha uns 9 anos e, quando você tem essa idade e perguntam uma coisa dessas, você se sente meio encurralada. A pessoa tinha colocado um “ou” na pergunta, o que deixava claro: eu só tinha uma opção. Pensei e respondi: português. Sem querer fazer drama sobre a vida colegial nem nada, passei esse tempo todo conformada ao meu destino de ser boa em português e ruim em matemática. E não precisava ser assim! Anos depois é que eu vi que tinha gente boa nas duas coisas, que eu podia gostar de matemática e continuar gostando de português.

Voltando ao filme, toda vez que alguém pergunta de que tipo de filme eu gosto, fico tentada a responder baseada nos últimos que vi, mas a verdade é que meus filmes preferidos variam de acordo com minha fase de vida. Aliás, variam num mesmo fim de semana! Mas, mesmo que eu sempre amasse os mesmos tipos de filme, por que teria que criar uma rixa entre esse tipo de filme que amo e os outros? Por que defender um e detonar o outro, como se estivesse escolhendo um candidato pra votar?

Uma das coisas que acho mais legais na arte é a diversidade. É incrível ter acesso a tantos tipos de música, livros, etc. Essa variedade atende não só pessoas diferentes, como a mesma pessoa em diferentes momentos. Pra que abrir mão disso? Fico pensando se essas pessoas que defendem ardorosamente um tipo de coisa gostariam que a outra opção sumisse do mundo só porque elas não gostam. Você, eu não sei, mas eu acho que isso seria um empobrecimento desnecessário da arte.Da mesma forma, acho que escolher categoricamente entre ficar/namorar, loiro/moreno, matemática/português é um empobrecimento da vida. A gente muda, nossos gostos variam e nossas ideias, felizmente, não são fixas. Pra que trocar o “e” pelo “ou”? Talvez seja mais fácil escolher se o copo está meio cheio ou meio vazio, mas a verdade é que ele está meio cheio E meio vazio – de refrigerante ou de suco, dependendo do dia. E tudo bem!

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Os outros e as mudanças

Outro dia, reencontrei uns amigos do antigo curso. Papo vem, papo vai, começamos a nos lembrar de casos sobre nossa colega R. Nossa, ela era terrível. Ela tratava todo mundo bem, mas, quando a gente menos esperava, lá estava ela fazendo coisas de filme, tipo falar pro cara mais feio do curso que você é super afim dele. Ela fazia tudo com a maior cara e inocente, tipo “Ops, eu disse isso? Que cabeça a minha”, deixando todos confusos. Enfim. Começamos a nos perguntar por onde anda a R. e, quando vimos, estávamos fazendo comentários fofos, como “ela deve estar trabalhando como serial killer”. Mas, a uma determinada altura da noite, percebemos uma coisa: esses casos terríveis sobre a R. não aconteceram semana passada. Aconteceram há mais de 1 ano! A questão é: quem disse que a R. não pode ter mudado de lá para cá?

Você já deve ter percebido que tem uma incrível capacidade de mudar: de ideia, de estilo de roupa, de opinião, de tudo. Todas as pessoas mudam o tempo todo – a não ser que tenham uma vida bem entediante. Nossas experiências, leituras e conversas vão alterando nosso jeito de ser, de ver, de pensar.

Mas se, por um lado, reconhecemos nossas mudanças e até nos orgulhamos de algumas delas, por outro percebo que temos uma tendência a achar que os outros continuam os mesmos. Puxa, em mais de 1 ano, é claro que a R. pode ter mudado seu jeito de ser. Ela pode ter feito terapia, ela pode até ter se mudado para o Tibete, onde passa os dias meditando: faz tanto tempo que não temos notícias dela! É no mínimo pretensioso pensar que ela é estática, enquanto eu e meus amigos estamos aqui, superdinâmicos, tentando nos aperfeiçoar e tal – não sei você, mas eu tenho pavor de pensar em viver sem fazer isso. Verdade que considero o passar do tempo não uma linha contínua para o alto e avante, mas uma curva cheia de avanços e retrocessos – mas, de qualquer forma, luto para ser uma velhinha sábia no futuro!

Voltando: acho que a gente também tem a péssima mania de achar que desenvolvemos talentos ao longo do tempo enquanto os outros não melhoram. É meio injusto achar que aquela garota que hoje é atriz deve atuar mal porque atuava mal na escola, ou que o fulano que, sei lá, não sabia trabalhar em equipe da última vez que o vimos continua sem saber. Não é só a gente que aprende, vai.

Fico pensando: se achamos que as pessoas não mudam, como dar uma nova chance a elas: se eu encontrar a R. na rua um dia, preciso mesmo olhar pra ela pensando na psicopata que ela foi a um tempo atrás? Claro, ela pode, digamos, ter aprendido a desenhar, mas não ter mudado muito no quesito confiabilidade e, sei lá, tentar roubar meu namorado (embora eu não tenha um no momento). Mas fico achando que é muito melhor dar uma chance de ver quem é a R. de agora e parar, inclusive, de olhar pra ela pensando em palavras como “psicopata”. As pessoas nos surpreendem o tempo todo, e acho maravilhoso nos abrirmos para as mudanças delas. Claro, não preciso deixar meu futuro namorado perto dela enquanto faço essa experiência, mas você entendeu.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Eu quero, eu posso... eu consigo?

Eu não tinha nenhum preconceito com livros de autoajuda, mas também nunca tinha lido um. Não que eu quisesse me autoajudar, mas já fiz terapia, sempre leio meu horóscopo, já deu, né? Acontece que, nesses dias que fiquei sem escrever, fui na casa de uma amiga que estava superempolgada com um livro desses. Não lembro o nome, mas era algo como “Encontre sua estrela interior”. Ela só sabia falar que a estrela dela era isso, que a estrela dela era aquilo. Aí resolvi dar uma folheada no livro. Afinal, essa sabedoria deveria ser mesmo estrelar.

Logo nas primeiras páginas, fiquei irritada com a quantidade de regras do livro. Parecia minha mãe, quando eu tinha 7 anos (não que ela tenha mudado muito de lá pra cá). Fiquei meio com antipatia, sabe? Mas continuei lendo. O autor tinha todo um sistema de normas que eu não sabia de onde vinham, mas ok, eu também não entendo astrologia e leio meu horóscopo. O que me incomodou mesmo foi essa coisa de “eu quero, eu posso, eu consigo!”. Parece que todo mundo que usa a tal da estrela interior tem que ter a autoestima elevada, entendendo que pode e consegue tudo, e, se não puder/conseguir, é porque está faltando pensamento positivo e tal. Pera lá. Que cobrança é essa? E desde quando pensamento positivo virou solução pra tudo?

Eu não sei/posso tudo. Na verdade, sem querer pagar de humilde nem nada, estou bem longe disso. Além de não poder voar nem respirar debaixo d’água, não consigo fazer várias contas de cabeça ou passar numa prova sem estudar – e, mesmo que eu estude, pode ser que no fim eu acabe não passando, ué. Não posso ser mais bonita que a Gisele Bündchen, não consegui evitar alguns pés na bunda ao longo de um ano... Mas e daí?

Eu não sei muito bem o que é felicidade (como eu disse no primeiro post desse blog), mas nunca achei que é feliz quem pode e consegue fazer tudo (aliás, essa pessoa mágica teria que viver num tempo infinito, pra conseguir fazer tudo!). Quanto ao pensamento positivo, realmente ele é incrível, mas calma lá, né? Se você se esforçar e pensar positivamente, ainda assim pode se frustrar em algumas situações (porque seu esforço não bastou, porque não era pra ser, sei lá por que). Terminando, acho que essa coisa de poder tudo tem mais a ver com autoilusão. Posso muito bem me amar tendo consciência dos meus limites, não? Amo minhas amigas, e elas são tão limitadas! Brincadeira! Não sei você, mas sinto um alívio danado quando penso que não tenho a menor obrigação de acertar sempre.

Fechei o livro desanimada com minha estrela interior. Não vou dizer que nunca mais folharei nenhum livro de autoajuda, mas, desses que partem do pressuposto de que temos que nos achar o máximo para gostarmos de nós mesmos e conseguirmos o que queremos, dispenso. Deve ser bem frustrante esbarrar em algum obstáculo quando você se acha a rainha da cocada preta. E, como você já deve ter percebido, vira e mexe a gente esbarra em algum obstáculo: eu, você e nossas estrelas interiores. E tudo bem se, nessa hora, a gente chorar e perceber que não somos perfeitos, nem nós, nem a vida. Quem disse que não há beleza na imperfeição?

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Precisamos mesmo ser tão críticos?

Sem querer começar falando da minha infância nem nada, quando eu era criança, adorava um quadro que ficava no atelier da minha mãe. Nós (eu e ela, não o quadro) nos mudamos algumas vezes, e aquela pintura lá, sempre junto. Beleza, cresci e minha mãe me deu o quadro de presente. Fofo, né? Mas ainda não cheguei ao meu ponto. Pendurei o quadro no meu quarto e só aí reparei que tinha um descascadinho no lado superior esquerdo dele. Inho, mesmo. Só dava pra ver bem de perto. Provavelmente, tinha sido eu a culpada, na hora de transportar o presente. Enfim: os dias se passavam e eu não conseguia mais admirar a pintura. Quando eu olhava pra ela, meus olhos iam direto para o descascadinho. Comecei a ficar bem histérica. Não com a tela, mas comigo. Sério: tinha 99,8% de quadro perfeito. Por que eu teimava em olhar para o 0,2%?

Sem querer transportar a questão do quadro pra vida, mas transportando, comecei a reparar como, às vezes, tudo está quase perfeito, mas nos focamos justamente nesse “quase”. Minha nova roupa é linda, mas a cor da calça dela é estranha... A foto que eu tirei ficou ótima, mas esse meu fio de cabelo fora do lugar... Tudo está tranqüilo, mas esses 3kg a mais... Minha amiga é ótima, mas a risada dela... Argh! Tudo bem, não dá pra ver só as coisas boas à nossa volta e achar que o mundo é um pão-de-ló (bem, inventei essa expressão). Mas, quando tudo está quase lá, precisamos mesmo ser tão críticos? Por exemplo: se nossa vida está cheia de coisas legais, menos a discussão que tivemos com nossos pais, uma discussão precisa contaminar o resto da nossa vida, a ponto de só pensarmos nisso e fecharmos a cara?

Tenho uma amiga (eu sempre uso minhas amigas para os exemplos ruins, mas o que eu posso fazer? Citar meu cachorro? E eu nem tenho cachorro) que é exatamente assim. Coincidência ou não, ela é virginiana (pra quem não lê horóscopo: os virginianos têm essa fama de se focar no descascadinho do quadro). O caso é: se ela dá uma festa e, sei lá, o brigadeiro ficou mole demais, ela é capaz de deixar de curtir porque está com a cabeça na frustração do brigadeiro. Virginianos ou não, acho que todos nós desperdiçamos bons momentos deixando que o lado ruim sobressaia. Na verdade, acho que isso é preferível a ser uma pessoa relapsa que aceita qualquer foto, qualquer roupa, qualquer vida. Mas espere um pouco, né? Faz mais sentido adotarmos o caminho do meio, como diria o Dalai-Lama, ou o Buda, sei lá. Se o seu trabalho não é, digamos, escolher as fotos que vão sair numa revista, precisa tanta paranóia com o fio de cabelo?

Bem, mas vamos voltar ao quadro, porque eu amo terminar o post complementando o que eu escrevi no primeiro parágrafo. Decidi que ia mandá-lo para algum lugar que faça restauração, mas depois desencanei. É que, com o tempo, o descascadinho foi parando de me incomodar tanto. Ainda bem, né? Na boa, minha casa não é uma galeria de arte e eu posso ser super feliz com uma pintura imperfeita. Aliás, agora, estou escrevendo de frente pra ela. Pro quadro, não pro descascadinho, afinal, ele só corresponde a 0,2% do total.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Você quer um passado novo?

Esse ano eu fui à Cabo Frio e fiquei apaixonada por tudo: pelas praias, pelas atrações, pelas lojinhas e também por um garoto – ele era lindo e se chamava Victor. A gente se encontrava todo dia na praia, surfávamos juntos e ficávamos conversando na rua até tarde. Só que os dias iam passando e nada de a gente ficar; No último dia da viagem, decidi dar um jeito e dizer algo, mas... desisti. E aí, no dia que eu ia embora, sem querer sem dramática nem nada, nos despedimos para sempre – ele foi para a cidade dele e eu para a minha. Lembrando que, pra pior tudo, eu perdi o msn dele.

Quando eu lembrava disso, acabava dando bronca em mim mesma. Se eu pudesse voltar no tempo, putz, como eu falaria pro Victor que estava doidinha por ele! Mesmo que fosse pra receber um “Que pena, eu não”, sabe? Pelo menos, eu teria tentado e não carregaria o peso amargo desse arrependimento (ok, exagerei). Parece que, por mais que estejamos satisfeitos, é quase certo que, se pudéssemos voltar no tempo, mudaríamos alguma coisa na nossa vida. A gente não pode fazer isso (se você pode, desculpe), mas tem outra coisa que a gente pode: fazer julgamentos superlegais com nós mesmos, do tipo: “Que idiota eu fui”, “Que covarde”, etc. Eu confesso: era mestra em fazer isso comigo. Só que, da última vez que relembrei essa história do Victor, resolvi dar um tempo nessas críticas.

Depois de refletir por alguns momentos enquanto comia musse de maracujá, (adoro refletir com musse de maracujá), cheguei a duas conclusões que me pareceram bem óbvias:

1) É perda de tempo xingar minha versão passada. Afinal, não posso fazer nada em relação às coisas que já passaram (de novo, se você pode, desculpe). E, principalmente,

2) É injusto fazer isso comigo mesma.

Quando olho pra trás, vejo minha versão de agora, 2.0, fazendo naquelas situações. Só que tomando atitudes diferentes. Quem fez aquelas coisas, foi a pessoa do passado, a versão 1.0. Então, é, no mínimo, uma maldade comigo mesmo (e uma inverdade!) olhar meu passado como se o eu de agora o estivesse vivendo. No começo do ano, coisas que me parecem mais fáceis hoje, eram complicadas. Da mesma forma, espero que, daqui a alguns anos, a minha versão 3.0 tenha qualidades que eu ainda não tenho. E aí? No futuro, vou xingar a minha versão de agora, sendo que estou tentando fazer o melhor?

Se você tem o hábito de olhar pra trás e ver que poderia ter feito várias coisas de um jeito diferente, legal: acho que é quase inevitável fazer isso. Mas, se tem o hábito de se detonar nessas horas, como eu tinha, pense nisso. A pessoa que você foi, para o bem e para o mal, não é quem você é agora: tenha paciência com ela, coitada. E, afinal de contas, foi sendo ela que você acabou sendo quem é hoje. Acho que o negócio é bancar o que a gente fez. Não acha? E, principalmente, tentar fazer sempre o melhor que podemos, para, no futuro, nos lembrarmos disso: que, naquela época, dispondo dos recursos de que a gente dispunha, demos o nosso melhor.

(Mas fico pensando se aquela bocó que eu era não podia mesmo ter criado coragem pra falar com o Victor e... ok, parei!)

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Uma tristezinha gostosa

Ficar triste é ruim. Ficar feliz é bom. A gente aprendeu isso há tanto tempo que fica até meio estranho discordar. São verdades tão verdadeiras quanto dizer que chocolate é gostoso (se você é diabético, desculpe). E eu não vou ser louca de criar caso. Amo ficar alegre e acho chatíssimo me chatear com alguma coisa. Até aí, tudo bem. Mas onde entra aquela tristeza gostosinha, que às vezes invade a gente? Calma, vou explicar.

Não estou falando que tristeza é necessário, importante e tal. Isso você já deve ter reparado. Se você terminou seu namoro ou brigou feio com alguma amiga, você sabe que, até se sentir bem de novo, vai ter que agüentar a dor. Se você se decepcionou com alguém, depois vai acabar vendo como aprendeu com aquela situação, por mais que tenha sofrido na hora. Ninguém escapa de ficar triste às vezes e, se alguém diz que nunca fica triste com nada, tendo a acreditar seriamente que esse alguém está mentindo. Ou é que é bobo, mesmo. Porque como vamos crescer, mudar e amadurecer sem passar de vez em quando por aqueles momentos-bola? Chamo de momentos-bola aqueles em que a gente sente que tem uma bola aqui dentro, que sobe e desce, apertando ora nossa garganta, ora nosso coração. É um saco, é triste, mas, quando passa, a gente vê como foi bom. Ou não, né? Como diria uma amiga minha, há mal que vem pra bem. Minha mãe diz isso também. Mas essa minha amiga é bem pessimista, sabe. E, além do mais, esse post não é sobre ela. Então, continuando com a minha visão otimista, porque é nela que eu acredito: momentos-bola são superválidos. Sempre!

Mas, apesar de ter gastado um parágrafo inteiro, não é dessa necessidade da tristeza que estou falando, meu ponto, aqui, é aquela tristezinha gostosa, sabe. Aquela do título. Aquela que, de longe, se você olhar com certo distanciamento, parece até alegria.

Uma vez, quando uma amizade minha acabou, fiquei muito mal. Muito mesmo. Não era uma bola que tinha dentro de mim, mas o globo terrestre inteiro. Bom, um dia, no meio dessa tristeza toda, fui preparar um macarrão. E aí, lá pela terceira garfada, comecei a chorar. Só que, no meio do choro, olhei pra essa cena, como se eu estivesse olhando fora, sabe. Como num filme. E pensei: “Credo, estou comendo macarrão e chorando. Eu estou triste MESMO”. E acabei dando um sorrisinho. Um sorriso meio triste, claro. É isso que estou querendo dizer com o título. E com o post inteiro.

Às vezes, vivemos tão no automático que esquecemos que somos vulneráveis à vida. E é tão legal ser vulnerável. Nessa hora, não importam aqueles questionamentos sobre a existência de Deus, vida após a morte e coisas assim: no momento da tristeza, tudo faz sentido. Porque, naquele momento, nos importamos muito com alguma coisa. Nos importamos a ponto de... Chorar comendo macarrão. Aí a gente aperta nosso braço e pensa: nossa, eu estou viva.

Tá, a gente não precisa realmente apertar nosso braço pra saber que estamos vivas, mas você entendeu, né?

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Procura-se a verdade

Uma amiga minha tem certeza de que está sempre certa. Do conselho para alguém que acabou de terminar um namoro às melhores estratégias para ir bem numa prova: ela tem a chave de tudo. Ou acha que tem, né. Enfim. Outro dia, começamos uma dessas discussões que a gente sabe que não vai levar a lugar nenhum, mas dá o sangue nela (Certo, exagerei). Ela, claro, tinha certeza de que estava com a razão, e eu, bem, er… eu também. Discussão vai, discussão vem, e eu me lembrei da placa do cachorro.

Calma, vou explicar. Um dia, eu estava andando serelepe pela rua, quando vi um poste com um desses avisos assim: “Dona desesperada procura seu cachorro, cor tal, nome tal etc.”. Não sei por que, logo imaginei que louco seria encontrar uma placa assim: “Dona desesperada procura a verdade, tamanho tal, sobre tal assunto, etc.”. Aí eu mesma ri da minha divagação idiota (Tenho várias, ok? Assumo!). Idiota por dois motivos. Primeiro, porque é idiota e pronto. Segundo, porque a verdade não tem dono, né? É muito triste quando a gente percebe isso, mas fazer o quê? Também odeio que chocolate engorde e que chova nos finais de semana, mas as calorias e a chuva estão aí.

É claro que, quando a gente percebe isso (que a verdade não tem dono, caso você não esteja prestando atenção), é normal pensarmos logo em seguida: “Bem, então é a festa da uva! Todas as opiniões são válidas, uhu!” Que dez da manhã é o melhor horário para comer abacate, que namoros devem durar 78 dias, que Deus existe e tem formato de girassol e que todas as pessoas que comem cereal de manhã são volúveis: tudo estaria no mesmo saco. Bom, não é beeem assim, né. Você já deve ter reparado que as opiniões não vêm do nada: tem coisas que as fundamentam.

Um agricultor vai dar um parecer melhor do que eu sobre, sei lá, plantar tomates, e quem se informa terá mais argumentos sobre as eleições do que quem não sabe o que está acontecendo. São opiniões mais bem fundamentadas, digamos, embora isso não signifique que estejam certas. Mas, para complicar um pouco, acontece de as opiniões serem bem fundamentadas para uns, mas não para outros, já que eles usam critérios diferentes para definir qual fundamento vale: o agricultor argumenta usando a técnica, um religioso fala que o melhor é aliar a técnica à oração, uma astróloga garante que não nasce nada enquanto Júpiter permanecer retrógado e um incrédulo diz que não existem tomates e tudo é uma ilusão. Ai, ai! Assim caminha a humanidade: todos brigando pela tal posse da verdade.

Voltando à minha amiga: no fim, não concordamos em tudo, mas chegamos a várias conclusões em comum. Como critério, escolhemos demonstrar racionalmente nossos argumentos: um fala, o outro rebate e assim vai por algumas horas. Que bom seria se fosse simples assim com a humanidade também, né? Mas não dá. São muitas pessoas e muitas opiniões, além de critérios, culturas e crenças diferentes. Quer dizer, isso é o que eu acho. Minha amiga tem certeza de que o mundo só vai levar mais algumas horas, ou melhor, alguns séculos, até tudo melhorar. Aliás, era sobre isso nossa discussão. O que você acha?

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Conhece-te a ti mesmo (como se fosse fácil!)

Hoje, no centro (sim, tão cedo, puf), uma menina de uns 15 anos me parou para perguntar pelo endereço tal. Depois que respondi, ela comentou, toda empolgada: “Que bom que é perto! Vou a uma agência de modelos, sabe?” Fiquei com aquilo na cabeça. É que... a menina não tinha o biotipo de modelo. Ela era baixa, não muito magra, o rosto era meio assim... Bom, aí vai: ela não era bonita. Me perguntei: e se ela tentar ser modelo por anos? De que adianta determinação se não temos jeito pra coisa? Mas... Como saber se a gente é mesmo o que a gente acha que é?

Na estou falando só de profissão. Todos os seus namoros terminam por causa da sua histeria, mas você se acha zen? Ou, você teima que o mundo é injusto por te achar chata, quando, na verdade, você costuma ser chata? Nem sempre a gente tem noção das nossas qualidades e dos pontos que podemos melhorar (se desejamos fazer amigos, namorar, essas coisas da vida em sociedade). É difícil acertar na dose de autocrítica – ou a gente tem demais e vive se detonando, ou tem de menos e, mesmo não fazendo o estilo modelo, já está de malas prontas para a temporada em Milão.

Pra piorar a história, nossa autocrítica não costuma ser a mesma em áreas diferentes. Você pode duvidar do seu jeito pra desenhar, mas acha que ninguém manja tanto de, digamos, história da literatura francesa do século 19. Pra piorar ainda mais (desculpe, mas é dever do blogueiro inventar desdobramentos!), nem sempre acertamos em qual área arrasamos. Tipo: você é boa em história da literatura... Mas, espera, você desenha muito bem! Você não vê que pode se dedicar mais a isso e fazer sucesso? O ponto, sem querer voltar para o parágrafo anterior, é que é difícil conhecer nossos limites e nossas possibilidades.

Claro, sua mãe pode ajudá-la no seu autoconhecimento, assim como suas amigas. Mas não é suficiente. Se elas acham que todos os desenhos do mundo são parecidos, vai ser difícil avaliarem se você leva jeito pra coisa. Pode ser também que elas não queiram magoá-la. E pode ser que estejam ocupadas vendo novela. Sem querer dar uma de cdf, o prefixo de autocrítica, “auto”, significa que ela vem de você. Por mais que botem pilha no que você é/deixa de ser/faz, é daí de dentro que tem sair essa consciência. Então, tire essa consciência daí! Tire! Tire!

Calma, melhorar o autoconhecimento leva tempo. É um processo longo, mas que vale a pena: é mais fácil ser feliz e aproveitar as oportunidades quando a gente se conhece melhor, certo? Tenho muito mais noção do que terei daqui a dez anos. Como diz minha tia Rosa, o segredo é deixar o tempo passar, estar sempre aberta ao aprendizado e quebrar a cara algumas vezes! Tudo bem, confesso: minha tia nunca disse isso. Mas é uma conclusão legal, vai.

domingo, 10 de outubro de 2010

Sem medo do ridículo

Sem querer começar esse post contando detalhes da minha rotina, mas começando, ontem precisei tirar um raio X dos “seios da face” (também não sei o que é isso, mas fica no rosto). Bom, entrei na salinha e dei de cara com uma maca à minha frente. Até aí, nada demais. Então, veio um cara com as instruções: eu teria que me deitar de barriga pra baixo, com o queixo apoiado onde estava vermelho e a testa onde estava verde. E ficar um tempinho assim, sabe. Supernormal. Olhei se não tinha nenhuma câmera, tive uma crise de riso e, como o cara fez uma expressão de que não tinha o dia inteiro, fiz o que ele mandou. E fiquei pensando: pelo amor de Deus, eu tenho quase 15 anos. Já era pra eu ter me curado do medo do ridículo!

Afinal de contas, o que é mais ridículo? Aquela posição ou... uma pessoa que, por estar naquela posição, tem medo do ridículo? Não sei você, mas eu fico com a segunda opção. Ter medo do ridículo, muitas vezes, consegue ser mais ridículo do que a própria coisa que nos deu medo. Claro, não estou dizendo que ficar daquele jeito na frente de um estranho é divertido. Mas e daí? O cara do raio lá devia atender milhões de pessoas por dia (ok, não milhões, mas muitas!), nem vai se lembrar do meu rosto e, como a vida não é uma novela, eu não vou descobrir nos próximos dias que ele é meu pai verdadeiro e que a gente se conheceu naquela situação. Enfim, por que tanto medo? Por quê? Por quê?

Bom, se você acha que descobri por que, sinto lhe decepcionar. E, se você acha que, se eu tiver que fazer esse exame denovo, vou amar a experiência, também sinto muito. Na verdade, a única coisa que fiz, depois de conversar com amigas verdadeiras e imaginárias, foi mapear as situações nas quais eu me sinto ridícula e me dar pelo menos uma forma cientificamente comprovada de espantar esse sentimento. Ok, esqueça a parte do cientificamente comprovado. Tudo que eu quero é fugir daquela segunda opção que citei no parágrafo anterior, que concordamos que é ainda pior que a primeira (se você não concordou, desculpe). Quero serenidade! Quero a cura do medo do ridículo! Quero... Tá, vamos à lista, senão o post vai acabar.

  1. Em exames de raio X e posições estranhas em geral: os segredo é se concentrar na efemeridade do momento. Tudo é passageiro nessa vida, seu corpo logo voltará à posição normal... E você fará um pouco de exercício – olha que saudável!
  2. Situações em geral com estranhos: lembrem, eles são estranhos. Vocês nunca serão amigos. NUNCA. Esse argumento é especialmente válido para pessoas que moram em cidade grande.
  3. Roupa errada/dança errada/equívocos variados: o segredo é desviar a atenção do seu erro, focando na sua excentricidade. Vim de jeans no casamento, olha como sou louquinha! Em velórios, dou “parabéns” em vez de “meus pêsames” para descontrair o ambiente, hehe. Se não funcionar, apele para o número 4. Aliás, o número 4 pode ser usado em situações em geral.
  4. Situações em geral: imagine uma imagem na sua cabeça. A primeira que vier. Um coelho voando, mãos enrolando brigadeiro, uma cena de Passione. Fique concentrado nessa imagem até a situação passar. E boa sorte.

[Eu imagino coalas sambando]

sábado, 9 de outubro de 2010

Sinta e não ceda às cobranças

Semana passada, minha amiga foi reprovada num exame muito importante da vida dela. Dificilmente haveria outra chance. É claro que ela ficou toda triste e todo mundo morreu de dó: a família, o namorado, o cara da padaria (ela sempre conversa com o cara da padaria). Até aí, tudo bem. O problema (problema?) é que, dois dias depois, minha amiga já estava toda feliz denovo. Refez os planos e voltou a sorrir. Em vez de ficarem felizes com a superação, as pessoas estranharam. Entendem o que estou dizendo? Todos que se aproximavam com aquela cara de “ai, tadinho, eu soube!” se sentiam decepcionados com a reação dele. Tinha acontecido uma coisa ruim, certo? E ele precisava estar mal, não?

Quando alguém vem desabafar, eu, que não sou psicóloga, costumo usar a técnica do “já aconteceu comigo”. Por isso, comentei com ela uma experiência parecida. Uma vez, consegui algo que queria muito, e aí me diziam coisas como “Uau, você deve estar transbordando de felicidade”. E eu não estava, sabe. Quer dizer, fiquei contente, mas também cheia de dúvidas. O ponto é que, assim como minha amiga, não correspondi ao que os outros esperavam que eu manifestasse. E, como nós duas somos confusas e volúveis, começamos a nos questionar se deveríamos esta do jeito que o pessoal queria: desesperado, no caso dele, e saltitante, no meu.

Não precisamos de mais de dois cafés para chegar à conclusão de que o negócio era não dar bola para o que “deveríamos” sentir. Os motivos são vários, mas, como temos só um post, vou falar dois. O primeiro é que não é justo nos culpar pelo que sentimos ou deixamos de sentir. Não é tipo um botãozinho. Sentimos e, a partir daí, tentamos lidar com nosso interior complexo. A segunda razão tem a ver com essa complexidade: quando as pessoas vêem a nossa vida, elas estão vendo do lado de fora – afinal, só você vê de dentro (dã). E esse olhar exterior tende a captar as coisas mais superficiais do que são pra gente. Dentro de você, pode ser maravilhoso, assustador, amargo, doce. Para elas, é mais fácil classificar como bom ou ruim...

Dá para culpá-las? Suas vivências serão sempre mais complexas para você, que é quem está vivendo. E para os outros, que estão lá ocupados com as coisas deles, começar um namoro é ótimo, terminar é péssimo e assim por diante. Assim, se todo mundo acha que você deve estar ansiosa e você estiver tranqüila... vai ter que agüentar a cobrança. Fazer o quê? Tentar ajudar o botão desse sentimento X? Ou se desneurar?

Eu voto em desneurar. É mais prático respeitar os sentimentos e bancar o que se passa dentro da gente. E digo mais: nem vale a pena se estressar. Melhor dar um sorriso para sua prima que acha que você tem todos os motivos do mundo para surtar (e você está ótima, obrigada) e ir tomar um capuccino. Sem jogar na cara dela, né? =p

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Amigos e nada mais

Quando conheci o Luiz na escola, um dos nossos primeiros assuntos foi se existe amizade entre homem e mulher. Manjado, eu sei. Mas acredite se quiser, foi o tema mais cabeça que surgiu numa tarde em que a gente só queria dar risada. Isso faz 2 anos e, mesmo sem termos chegado a um acordo naquela discussão, o caso é que nós dois continuamos amigos. O que mostra que amizade entre homem e mulher existe, né? Aliás, não ando saindo muito ultimamente, mas acho improvável que eu e o Luiz sejamos o único casal de amigos na Terra.

Bom, mas é claro que, quando as pessoas se perguntam se amizade entre homem e mulher existe, como a gente naquela tarde, o que elas querem saber é se dá para ser amiga de um cara sem que, um dia, role algo. Aí a história muda um pouco.

Vira e mexe, ouvimos alguma história de amigos que se apaixonaram. Sem querer misturar a vida com ficção nem nada, qualquer pessoa que tenha visto algum filme de comédia romântica sabe disso. Em Friends, Monica e Chandler eram superamigos e, um dia, acabou rolando. Imagina se a Monica tivesse uma amiga que dissesse "Tá vendo? Não dá para mulher e homem serem só amigos". Será? A amizade desinteressada, pura, digamos, que tinha existido entre o Chandler e a Monica deixou de ser verdadeira só porque, um dia, eles se apaixonaram?
Hum... Sei não. É estranho dizer que uma amizade entre homem e mulher era uma farsa só porque a relação entre eles mudou.

Não sei você, mas acho meio complicado não acreditar numa amizade só porque um dia, daqui a dois anos e duas semanas, se não chover, pode surgir uma atração. É a mesma coisa que deixar de ser amiga de uma menina porque vocês duas fazem medicina e daqui a dez anos, quando tiverem aberto uma clínica, podem brigar e não é legal brigar em ambiente de trabalho. Tá, não é a mesma coisa, mas você entendeu. O ponto é: qualquer amizade pode se transformar com o tempo, ué. Pode acabar, pode se fortalecer, pode acontecer tudo, inclusive nada. E isso não invalida o passado, invalida?

A gente costuma ter uma resistência danada a mudanças. Ficamos arrasadas ao perceber que já não é tão legal conversar com aquela amiga que já representou tanto para nós (se você não fica arrasada com isso, desculpe). Ou quando começamos a namorar e não temos mais a necessidade de ver nossos amigos cinco vezes por semana. A gente quer que as mudanças ocorram, sim, mas que, de alguma forma, tudo fique como antes.
Talvez por isso, quando ouvimos falar que dois amigos se apaixonaram, a gente leve um susto. Tudo mudou. Se tudo mudou, então nada existia antes? Ih, então é melhor não acreditar em amizade com o gênero masculino. Será? Claro que não! Amizade entre mulheres e homens não é impossível. Alguns casando, outros sendo padrinhos do casamento do amigo. Diferente, nossa amizade com eles pode ser. Sujeita a mudanças, certamente. Como tudo na vida. Não acha?

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Fins e começos

Não sei você, mas eu adoro o começo das coisas. De namoro, de amizade, de um livro, de um chocolate, de um curso legal. Que delícia aquele frio na barriga, no caso do namoro, ou do sabor do primeiro quadradinho, no caso do chocolate! Já os fins não costumam ser tão dinâmicos. O chocolate acabou, o livro incrível chegou ao fim e, pior ainda, a amizade e o namoro também. E aí a gente pode se sentir meio sem rumo. O que vamos fazer quando o período que passamos acabar? E quando o curso acabar? E o que faço quando envelhecer e perder minha beleza? E quando meu gato morrer? Aaaah!

Realmente, os fins estão aí, não há como negar (quer dizer, a gente pode negar, mas eles estão aí!). E, às vezes, são difíceis. Fim de namoro, por exemplo. No fundo, a gente sabe quando está deixando de gostar de alguém. Ou quando alguém está parando de gostar da gente. Mesmo assim, nem sempre deixamos aquela história ir embora. Eu já tive um namoro que estava louca pra terminar, mas, ao mesmo tempo, não aceitava isso. Preferi insistir por mais alguns meses, num negócio que eu já sabia que tinha acabado, só por causa dessa coisa que a gente teme... o fim. Além do medo do que vinha pela frente, eu não me conformava com o fato de um sentimento tão forte (era forte, ok?) ter ido embora.

Tipo, por que ele estava fazendo isso? Quem ele pensava que era? Argh.
Fim de amizade também é complexo. Por um lado, você não tem que marcar uma conversa para terminar. Mas, por outro... é triste perceber que não sente mais falta daquela amiga quando está longe ou que aquela garota que era tão querida e admirada por você agora te irrita. Claro, sempre pode ser só uma fase, mas às vezes não é. Tem amizades que a gente pensava que fossem durar pra sempre, mas vão esfriando cada vez mais. Aí a gente dá um jeito, vai se distanciando aos poucos, torcendo pra que tudo um dia volte a ser como era antes, mas não volta. Porque, mesmo que você e sua amiga se reaproximem, não vão ser como antes: nada é como antes!

Bom: como você já deve ter percebido, a gente muda muito a longo dos anos. Além do nosso cabelo e das roupas, mudam nossos sentimentos, nosso jeito de ver as coisas, nossa experiência.
As circunstâncias e as pessoas ao nosso redor se alteram também. Como diria minha avó, até uva passa! Ai, péssima né?
Mas continuando. Sem querer ser autoritária nem nada, é assim que as coisas são, independentemente da nossa vontade: elas acabam, começam. Se não aceitarmos isso, vamos prolongar o sofrimento por situações e pessoas que não fazem mais sentido pra gente. E, pior, podemos fechar os olhos para o novo, que, afinal também faz parte da vida e é tão bom: um novo começo! Sem querer pagar de uma onda no mar, umas coisas vêm e outras vão e, se a gente não precisa pular de alegria quando vão, também não precisa espernear. Bem, talvez seja legal espernear, mas só um pouco. Afinal, espernear um pouquinho também faz parte da vida.



P.S. Dica de hoje http://luiza26.blogspot.com/

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Conto ou não conto?

Há algum tempo, uma amiga me ligou com um tom de voz de “lá vem bomba” e me chamou para um café. Assim que nos encontramos, ela soltou: tinha traído o namorado e não sabia se contava ou não pra ele. É claro que nós, os amigos, não somos um oráculo, e nesses casos, tento dar uma resposta na linha do “cada um é cada um, o que seria do azul se não fosse o amarelo?”. Mas, beleza, quando a bomba é minha, eu amo transformar os amigos em oráculos que me mostrem a verdade e me digam o que fazer.

Então, resolvi dar alguns pitacos.
O problema de falar sobre traição é que só a palavra já remonta a toda uma música de fundo, lágrimas no olhar, tapas na cara, enfim, já deixa claro que é errado e não se fala mais nisso! Se fosse uma palavra como “mamão”, por exemplo, seria mais fácil falar sobre o assunto. Tem quem goste, tem que não goste, tem quem faça uma vitamina e etc. Mas voltamos ao nosso foco fora do mundo das frutas.
Espalharam por aí que, quando um casal se ama, eles ficam um com o outro e com mais ninguém. Por isso, sem querer inventar estatísticas, mas inventando, 99% das pessoas, quando descobrem que são traídas, fazem um drama danado e, na melhor das hipóteses, “perdoam” o traidor. Por outro lado, uns 80% das pessoas já traíram e/ou foram traídas, vai. E aí?

Teoricamente, dar uns intervalos na nossa relação estável e ficar com outro parece ser superdinâmico. Se uma pessoa A namora a B, e B, danadinha, fica com a C, mas volta feliz para os braços da A, o que é que tem?
B já está com a A e a equação (tá, não é uma equação) voltou ao normal.
Certo? Bom, a vida é mais complexa do que três letras trocando de lugar. A gente se depara com sentimentos como orgulho, ciúme e posse, e é difícil abandonar essas referências e ter um namoro “moderninho”. Eu confesso que até já tentei, mas não deu muito certo. Também enche um pouco a paciência, pelo menos a minha, ter uma dessas relações megassinceras. Na boa, se meu namorado beijou uma outra menina, eu quero mesmo saber disso? Será?

Bom, dito isso tudo, falei pra minha amiga o que eu achava: que, se ela não estivesse com dor na consciência, melhor esquecer o assunto e não contar nada. Mas esse conselho foi inútil porque, como eu disse no primeiro parágrafo, ela estava, sim, com dor na consciência. E dor na consciência é mais difícil de sair do que pelo encravado. O que fazer? A solução mais difundida pelas pessoas é confessar a traição. Faz sentido? Ou é só folga do traidor, que tem seu sono de volta e estraga o sono do traído?
Depois de conversarmos muito, ela chegou a conclusão de que iria contar. E aí, ele terminou o namoro, como ocorre em, digamos, 60% dos casos. Isso já faz uns dois meses e pode ser que eles voltem. Vai saber. O caso é: você concorda com a atitude da minha amiga?
O que eu acho mesmo é que cada um é cada um, e o que seria do azul se não fosse o amarelo?

terça-feira, 20 de abril de 2010

Em busca da felicidade

Sem querer começar o blog com obviedades, mas começando, o ser humano é um bicho estranho. Se você pensar em algo que todos querem, é essa tal de "felicidade". Mas sabemos definir o que é felicidade? Não. Quer dizer, a gente escolhe umas palavras para explicá-la, mas não conseguimos defini-la como fazemos, sei lá, com uma cadeira (aliás, não me peça para definir uma cadeira). Bom, ontem eu estava conversando com uma amiga, quando ela me perguntou como eu faço para me considerar uma pessoa feliz (eu me considero).
Eu não soube o que responder. Mas é claro que a Alice (ela se chama Alice) não se contentou com isso e ficamos discutindo a respeito.

Ela me disse que está sempre querendo algo que não tem. Mas, até aí, eu também. Se estou louca para arranjar um namorado incrível e arranjo, lá vou eu ficar louca para fazer uma viagem. Se viajo, lá vou eu querer, digamos, fazer um curso de Latim. Isso quando não quero namorado, viagem e curso ao mesmo tempo.

Sempre tem algo que falta a nós duas. Mas lembrando, caso você não tenha prestado atenção no primeiro parágrafo: eu me acho feliz, e ela, não. Por quê?

Como todo mundo, nós passamos por problemas. Aliás, indo um pouco além: muita gente tem mais problemas do que nós duas, e muito mais “sérios” (se é que podemos medir assim) e, adivinha... se acha feliz. Bom, mas já que não entrevistei 1,5 mil pessoas, voltamos a nós duas: mesmo nas minhas piores fases, eu me considero feliz. Claro, fico com o nariz escorrendo quando choro, mas sei que a tristeza vai passar, mesmo que a circunstância permaneça (tipo o fim de um namoro). Já ela, nos momentos ruins, sente que tem a prova de que é infeliz. E, se bobear, fica remoendo aquilo por anos. Por quê?


Bem, como você deve ter imaginado, não chegamos a nenhuma conclusão genial. Senão, estaríamos ocupadas escrevendo o livro “Descobrimos o que é felicidade, descubra você também!”. Se bem que há um monte de livros assim. Enfim, o que sabemos é que eu me acho feliz e ela não – e com base nisso, podemos levantar mil hipóteses. A primeira é que ela é uma boba e eu sou o máximo. Ok, hipótese descartada. Ou, então, eu sou menos exigente em relação à felicidade, ou nasci assim e ela assado – essa é a hipótese mais chata, porque não estaria ao nosso alcance ser de outro jeito. Bom: a que mais nos satisfez foi que eu me acho feliz porque tenho a sensação de que estou fazendo o possível para conseguir o que quero (embora o que quero viva mudando). E que essa corrida sem fim – ou com vários fins, à medida que alcançamos os objetivos – é muito divertida. Ela, às vezes, reclama e não faz nada. Claro, não podemos mudar coisas como “a partir de hoje, não choverá aos sábados”. Mas não mudar o que está ao nosso alcance é pedir para qualquer um ficar mal-humorado. Sei lá o que é felicidade, mas mau humor não combina com ela né?