domingo, 19 de dezembro de 2010

O fim da história importa mais que o resto?

Mês passado, uma amiga veio aqui em casa, começamos a conversar sobre literatura e acabei, meio a contragosto, emprestando um livro para ela (sim, sou essa pessoa chata que não gosta de emprestar livros! Ninguém devolve! Sei disso porque estou cheia de livro dos outros em casa). Bom, depois que emprestei, fiquei toda curiosa para saber o que ela tinha achado. Ela não costuma ler muito, mas eu tive certeza que, desse livro, ela ia gostar. Depois de 2 semanas enrolando, ela finalmente começou a ler. Daí, um dia, ela entra no MSN e fala: “Terminei o livro.” Pergunto: “E aí?” E ela responde: “Ah, não gostei do final”.

Sério. “Não gostei do final”: isso é tudo o que ela tinha a dizer? Suspirei e perguntei o que ela achou, então, das outras 290 páginas, já que não tinha curtido as últimas dez. “Ah, sei lá, achei que a história ia acabar indo para outro lado”, ela respondeu. De novo, a danadinha focada no final. Desisti e não comentei mais sobre o livro (a não ser para cobrar a devolução). E fiquei pensando: quantas vezes a gente não dá muito mais valor ao final das coisas do que à história toda?

Nem é só com livros ou filmes. Tem gente que tem um namoro perfeito, que durou três anos felizes, sem nenhuma discussão. Ok, isso não existe. Mas, enfim, o namoro foi lindo a maior parte do tempo e teve um final péssimo – digamos, o cara se apaixonou por uma menina e ambos fugiram para o Caribe. Por que essa parte tem que apagar os três anos inteiros, como se eles não tivessem valido a pena?

Tenho uma prima que ama com todo o amor dela detonar o ex porque ele a largou de repente (embora não tenha fugido para o Caribe com ninguém). Hoje, ela já está toda feliz com outra pessoa, mas, se você pergunta sobre aquele namoro, ela já vai respondendo que foi uma história sofrida, que quase morreu e tal. Ou seja, os momentos em que os dois tomavam sorvete, os passeios, a harmonia, tudo sumiu, e ficou só um cara sem coração e um fim horrível. Pior, ficou aquela sensação de “não deu certo”. Aliás, se tem uma coisa que sempre detestei é quando alguém pergunta “Ahhh, mas por que não deu certo?”. Só porque acabou não deu certo? Para mim, passar um tempão feliz com alguém é, sim, dar certo com essa pessoa, vai.

Uma vez, um amigo meu, super neurótico com dieta, ficou tão encanado com o tanto que tinha comido numa festa que foi embora para casa de cara fechada, depois de uma noite bem divertida. Também tenho uma amiga que, no último dia de viagem de um mês, quebrou um dedo e ficou tão mal-humorada que nem gosta de se lembrar da viagem. Sério, foram tantos dias ótimos, mas ela só se foca no último. Já me peguei fazendo isso também: encanando com a parte chata de uma conversa que, pela noite inteira, foi tão agradável; recordando justamente a hora de um encontro que não foi legal. Por quê?

Pode ser hábito, pessimismo, memória ruim. Sei lá. Só sei que eu, até o fechamento desse post, não faço a menor ideia se existe vida depois da morte. Sem querer ser mórbida nem nada, se não existir, a gente vai ter que se contentar com um final bem sem graça para nossa trajetória: puf, sumimos. E aí, a vida valeu menos a pena por causa disso? Não acho. Prefiro me focar nas 290 páginas que eu aproveitei.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Neuras natalinas

Odeio essa coisa de dividir as pessoas em dois grupos: quem prefere praia ou campo, o pai ou a mãe, namorar ou ficar; e já disse isso várias vezes aqui no blog. MAS, como vocês já devem ter percebido, coerência não é meu forte e vou começar a coluna dividindo os mais de 6 bilhões de habitantes do mundo entre os que gostam e os que não gostam de Natal (desconsidere os povos que não comemoram o Natal, para não estragar minha estatística e continuemos).

Dentro dos que não gostam do Natal, temos a facção radical, que briga com a família e se recusa a comemorar a data – uma mera imposição social e mercadológica na visão deles. Esses são os malas. Dentro dos que gostam de Natal, há um subgrupo moderado, que engloba os que gostam da data (como já foi dito, dã), mas reconhecem que ela é uma rica e dinâmica fonte de problemas, estresse, frustração e histeria. Mesmo conscientes disso, lá estão os integrantes desse grupo, ano após ano, aguardando ansiosos pela data. É nesse subgrupo que eu me encaixo.

Convenhamos: tão ou mais improvável do que ganhar na loteria é ganhar um presente legal no amigo secreto. Ou você vai ganhar uma blusa que não faz seu estilo, ou um CD de um cantor obscuro, ou aquele chocolate que é justamente o que você não come. Pra piorar, você vai dar uma coisa legal porque, afinal, você é legal (estou escrevendo esse post para as pessoas legais). Ah, esse presente legal que você deu vai pro buraco negro dos presentes legais do amigo secreto porque, como eu disse, ninguém ganha um presente legal no amigo secreto.

Mesmo precisando perder 2 kg para a praia, você vai comer demais na ceia e passar o dia seguinte arrependida (enquanto come a comida requentada da ceia). Mesmo tendo se comprometido a não brigar com sua família e a fazer um Natal típico de propaganda de peru/chester/essas aves loucas dessa época, você vai armar um escândalo por causa de alguma coisa que sua mãe disse e vai ficar histérica. E, mesmo gostando da data, você vai ficar irritada por se sentir obrigada a gostar da data – porque é muito chato ser obrigada a gostar de alguma coisa e você é do grupo de que gosta de Natal!

Bom, mas quem se importa? Quando você pensa na árvore toda colorida, na família falando besteira e dando risada, no tio sem-noção que pergunta pelo seu novo namorado na frente do seu pai e a faz morrer de vergonha, na expectativa de receber uma coisa incrível no amigo secreto (não vai acontecer, mas é bonito ter expectativa), na lembrança que daqui a pouco o Réveillon vem e o ano acaba e você está cheia de planos... pimba: depois da festa, você dorme na sua cama quentinha, feliz por mais um Natal. Afinal, quem não gosta de Natal é mala, lembremos!

sábado, 20 de novembro de 2010

Escolhas entre A ou B

Hoje, saindo do cinema, ouvi a conversa de duas amigas. Uma estava suspirando pelo filme, uma comédia romântica, e a outra saiu com uma cara mega crítica, sabe como é, ? Daí essa da cara crítica começou a reclamar que aquelas duas horas não tinham acrescentado nada à vida dela. “Só gosto de filme cabeça”, sentenciou. Daí a amiga suspirante ficou toda bravinha e começou a discursar sobre como filme cabeça é chato e como comédia romântica é legal: “Quando vou ao cinema, não quero pensar: quero me divertir!”. Daí a outra amiga respondeu... Bom, na verdade não sei o que ela respondeu por que segui meu caminho, ? Não ia ficar ouvindo as duas pra sempre. O caso é que fiquei pensando: por que a gente tem essa mania de criar rivalidade entre as coisas?

Pode reparar, é como se, muitas vezes, a gente ficasse se forçando a tomar partido. Você ouve rock ou sertanejo? Prefere campo ou praia? Loiro ou moreno? Carne vermelha ou peixe? Suco ou refrigerante? Ficar ou namorar? Aaaaah! Parece que o tempo todo temos que marcar um “x” nas opções.

Uma vez, na escola, me perguntaram se eu era do time das que preferiam matemática ou português. Eu tinha uns 9 anos e, quando você tem essa idade e perguntam uma coisa dessas, você se sente meio encurralada. A pessoa tinha colocado um “ou” na pergunta, o que deixava claro: eu só tinha uma opção. Pensei e respondi: português. Sem querer fazer drama sobre a vida colegial nem nada, passei esse tempo todo conformada ao meu destino de ser boa em português e ruim em matemática. E não precisava ser assim! Anos depois é que eu vi que tinha gente boa nas duas coisas, que eu podia gostar de matemática e continuar gostando de português.

Voltando ao filme, toda vez que alguém pergunta de que tipo de filme eu gosto, fico tentada a responder baseada nos últimos que vi, mas a verdade é que meus filmes preferidos variam de acordo com minha fase de vida. Aliás, variam num mesmo fim de semana! Mas, mesmo que eu sempre amasse os mesmos tipos de filme, por que teria que criar uma rixa entre esse tipo de filme que amo e os outros? Por que defender um e detonar o outro, como se estivesse escolhendo um candidato pra votar?

Uma das coisas que acho mais legais na arte é a diversidade. É incrível ter acesso a tantos tipos de música, livros, etc. Essa variedade atende não só pessoas diferentes, como a mesma pessoa em diferentes momentos. Pra que abrir mão disso? Fico pensando se essas pessoas que defendem ardorosamente um tipo de coisa gostariam que a outra opção sumisse do mundo só porque elas não gostam. Você, eu não sei, mas eu acho que isso seria um empobrecimento desnecessário da arte.Da mesma forma, acho que escolher categoricamente entre ficar/namorar, loiro/moreno, matemática/português é um empobrecimento da vida. A gente muda, nossos gostos variam e nossas ideias, felizmente, não são fixas. Pra que trocar o “e” pelo “ou”? Talvez seja mais fácil escolher se o copo está meio cheio ou meio vazio, mas a verdade é que ele está meio cheio E meio vazio – de refrigerante ou de suco, dependendo do dia. E tudo bem!

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Os outros e as mudanças

Outro dia, reencontrei uns amigos do antigo curso. Papo vem, papo vai, começamos a nos lembrar de casos sobre nossa colega R. Nossa, ela era terrível. Ela tratava todo mundo bem, mas, quando a gente menos esperava, lá estava ela fazendo coisas de filme, tipo falar pro cara mais feio do curso que você é super afim dele. Ela fazia tudo com a maior cara e inocente, tipo “Ops, eu disse isso? Que cabeça a minha”, deixando todos confusos. Enfim. Começamos a nos perguntar por onde anda a R. e, quando vimos, estávamos fazendo comentários fofos, como “ela deve estar trabalhando como serial killer”. Mas, a uma determinada altura da noite, percebemos uma coisa: esses casos terríveis sobre a R. não aconteceram semana passada. Aconteceram há mais de 1 ano! A questão é: quem disse que a R. não pode ter mudado de lá para cá?

Você já deve ter percebido que tem uma incrível capacidade de mudar: de ideia, de estilo de roupa, de opinião, de tudo. Todas as pessoas mudam o tempo todo – a não ser que tenham uma vida bem entediante. Nossas experiências, leituras e conversas vão alterando nosso jeito de ser, de ver, de pensar.

Mas se, por um lado, reconhecemos nossas mudanças e até nos orgulhamos de algumas delas, por outro percebo que temos uma tendência a achar que os outros continuam os mesmos. Puxa, em mais de 1 ano, é claro que a R. pode ter mudado seu jeito de ser. Ela pode ter feito terapia, ela pode até ter se mudado para o Tibete, onde passa os dias meditando: faz tanto tempo que não temos notícias dela! É no mínimo pretensioso pensar que ela é estática, enquanto eu e meus amigos estamos aqui, superdinâmicos, tentando nos aperfeiçoar e tal – não sei você, mas eu tenho pavor de pensar em viver sem fazer isso. Verdade que considero o passar do tempo não uma linha contínua para o alto e avante, mas uma curva cheia de avanços e retrocessos – mas, de qualquer forma, luto para ser uma velhinha sábia no futuro!

Voltando: acho que a gente também tem a péssima mania de achar que desenvolvemos talentos ao longo do tempo enquanto os outros não melhoram. É meio injusto achar que aquela garota que hoje é atriz deve atuar mal porque atuava mal na escola, ou que o fulano que, sei lá, não sabia trabalhar em equipe da última vez que o vimos continua sem saber. Não é só a gente que aprende, vai.

Fico pensando: se achamos que as pessoas não mudam, como dar uma nova chance a elas: se eu encontrar a R. na rua um dia, preciso mesmo olhar pra ela pensando na psicopata que ela foi a um tempo atrás? Claro, ela pode, digamos, ter aprendido a desenhar, mas não ter mudado muito no quesito confiabilidade e, sei lá, tentar roubar meu namorado (embora eu não tenha um no momento). Mas fico achando que é muito melhor dar uma chance de ver quem é a R. de agora e parar, inclusive, de olhar pra ela pensando em palavras como “psicopata”. As pessoas nos surpreendem o tempo todo, e acho maravilhoso nos abrirmos para as mudanças delas. Claro, não preciso deixar meu futuro namorado perto dela enquanto faço essa experiência, mas você entendeu.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Eu quero, eu posso... eu consigo?

Eu não tinha nenhum preconceito com livros de autoajuda, mas também nunca tinha lido um. Não que eu quisesse me autoajudar, mas já fiz terapia, sempre leio meu horóscopo, já deu, né? Acontece que, nesses dias que fiquei sem escrever, fui na casa de uma amiga que estava superempolgada com um livro desses. Não lembro o nome, mas era algo como “Encontre sua estrela interior”. Ela só sabia falar que a estrela dela era isso, que a estrela dela era aquilo. Aí resolvi dar uma folheada no livro. Afinal, essa sabedoria deveria ser mesmo estrelar.

Logo nas primeiras páginas, fiquei irritada com a quantidade de regras do livro. Parecia minha mãe, quando eu tinha 7 anos (não que ela tenha mudado muito de lá pra cá). Fiquei meio com antipatia, sabe? Mas continuei lendo. O autor tinha todo um sistema de normas que eu não sabia de onde vinham, mas ok, eu também não entendo astrologia e leio meu horóscopo. O que me incomodou mesmo foi essa coisa de “eu quero, eu posso, eu consigo!”. Parece que todo mundo que usa a tal da estrela interior tem que ter a autoestima elevada, entendendo que pode e consegue tudo, e, se não puder/conseguir, é porque está faltando pensamento positivo e tal. Pera lá. Que cobrança é essa? E desde quando pensamento positivo virou solução pra tudo?

Eu não sei/posso tudo. Na verdade, sem querer pagar de humilde nem nada, estou bem longe disso. Além de não poder voar nem respirar debaixo d’água, não consigo fazer várias contas de cabeça ou passar numa prova sem estudar – e, mesmo que eu estude, pode ser que no fim eu acabe não passando, ué. Não posso ser mais bonita que a Gisele Bündchen, não consegui evitar alguns pés na bunda ao longo de um ano... Mas e daí?

Eu não sei muito bem o que é felicidade (como eu disse no primeiro post desse blog), mas nunca achei que é feliz quem pode e consegue fazer tudo (aliás, essa pessoa mágica teria que viver num tempo infinito, pra conseguir fazer tudo!). Quanto ao pensamento positivo, realmente ele é incrível, mas calma lá, né? Se você se esforçar e pensar positivamente, ainda assim pode se frustrar em algumas situações (porque seu esforço não bastou, porque não era pra ser, sei lá por que). Terminando, acho que essa coisa de poder tudo tem mais a ver com autoilusão. Posso muito bem me amar tendo consciência dos meus limites, não? Amo minhas amigas, e elas são tão limitadas! Brincadeira! Não sei você, mas sinto um alívio danado quando penso que não tenho a menor obrigação de acertar sempre.

Fechei o livro desanimada com minha estrela interior. Não vou dizer que nunca mais folharei nenhum livro de autoajuda, mas, desses que partem do pressuposto de que temos que nos achar o máximo para gostarmos de nós mesmos e conseguirmos o que queremos, dispenso. Deve ser bem frustrante esbarrar em algum obstáculo quando você se acha a rainha da cocada preta. E, como você já deve ter percebido, vira e mexe a gente esbarra em algum obstáculo: eu, você e nossas estrelas interiores. E tudo bem se, nessa hora, a gente chorar e perceber que não somos perfeitos, nem nós, nem a vida. Quem disse que não há beleza na imperfeição?

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Precisamos mesmo ser tão críticos?

Sem querer começar falando da minha infância nem nada, quando eu era criança, adorava um quadro que ficava no atelier da minha mãe. Nós (eu e ela, não o quadro) nos mudamos algumas vezes, e aquela pintura lá, sempre junto. Beleza, cresci e minha mãe me deu o quadro de presente. Fofo, né? Mas ainda não cheguei ao meu ponto. Pendurei o quadro no meu quarto e só aí reparei que tinha um descascadinho no lado superior esquerdo dele. Inho, mesmo. Só dava pra ver bem de perto. Provavelmente, tinha sido eu a culpada, na hora de transportar o presente. Enfim: os dias se passavam e eu não conseguia mais admirar a pintura. Quando eu olhava pra ela, meus olhos iam direto para o descascadinho. Comecei a ficar bem histérica. Não com a tela, mas comigo. Sério: tinha 99,8% de quadro perfeito. Por que eu teimava em olhar para o 0,2%?

Sem querer transportar a questão do quadro pra vida, mas transportando, comecei a reparar como, às vezes, tudo está quase perfeito, mas nos focamos justamente nesse “quase”. Minha nova roupa é linda, mas a cor da calça dela é estranha... A foto que eu tirei ficou ótima, mas esse meu fio de cabelo fora do lugar... Tudo está tranqüilo, mas esses 3kg a mais... Minha amiga é ótima, mas a risada dela... Argh! Tudo bem, não dá pra ver só as coisas boas à nossa volta e achar que o mundo é um pão-de-ló (bem, inventei essa expressão). Mas, quando tudo está quase lá, precisamos mesmo ser tão críticos? Por exemplo: se nossa vida está cheia de coisas legais, menos a discussão que tivemos com nossos pais, uma discussão precisa contaminar o resto da nossa vida, a ponto de só pensarmos nisso e fecharmos a cara?

Tenho uma amiga (eu sempre uso minhas amigas para os exemplos ruins, mas o que eu posso fazer? Citar meu cachorro? E eu nem tenho cachorro) que é exatamente assim. Coincidência ou não, ela é virginiana (pra quem não lê horóscopo: os virginianos têm essa fama de se focar no descascadinho do quadro). O caso é: se ela dá uma festa e, sei lá, o brigadeiro ficou mole demais, ela é capaz de deixar de curtir porque está com a cabeça na frustração do brigadeiro. Virginianos ou não, acho que todos nós desperdiçamos bons momentos deixando que o lado ruim sobressaia. Na verdade, acho que isso é preferível a ser uma pessoa relapsa que aceita qualquer foto, qualquer roupa, qualquer vida. Mas espere um pouco, né? Faz mais sentido adotarmos o caminho do meio, como diria o Dalai-Lama, ou o Buda, sei lá. Se o seu trabalho não é, digamos, escolher as fotos que vão sair numa revista, precisa tanta paranóia com o fio de cabelo?

Bem, mas vamos voltar ao quadro, porque eu amo terminar o post complementando o que eu escrevi no primeiro parágrafo. Decidi que ia mandá-lo para algum lugar que faça restauração, mas depois desencanei. É que, com o tempo, o descascadinho foi parando de me incomodar tanto. Ainda bem, né? Na boa, minha casa não é uma galeria de arte e eu posso ser super feliz com uma pintura imperfeita. Aliás, agora, estou escrevendo de frente pra ela. Pro quadro, não pro descascadinho, afinal, ele só corresponde a 0,2% do total.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Você quer um passado novo?

Esse ano eu fui à Cabo Frio e fiquei apaixonada por tudo: pelas praias, pelas atrações, pelas lojinhas e também por um garoto – ele era lindo e se chamava Victor. A gente se encontrava todo dia na praia, surfávamos juntos e ficávamos conversando na rua até tarde. Só que os dias iam passando e nada de a gente ficar; No último dia da viagem, decidi dar um jeito e dizer algo, mas... desisti. E aí, no dia que eu ia embora, sem querer sem dramática nem nada, nos despedimos para sempre – ele foi para a cidade dele e eu para a minha. Lembrando que, pra pior tudo, eu perdi o msn dele.

Quando eu lembrava disso, acabava dando bronca em mim mesma. Se eu pudesse voltar no tempo, putz, como eu falaria pro Victor que estava doidinha por ele! Mesmo que fosse pra receber um “Que pena, eu não”, sabe? Pelo menos, eu teria tentado e não carregaria o peso amargo desse arrependimento (ok, exagerei). Parece que, por mais que estejamos satisfeitos, é quase certo que, se pudéssemos voltar no tempo, mudaríamos alguma coisa na nossa vida. A gente não pode fazer isso (se você pode, desculpe), mas tem outra coisa que a gente pode: fazer julgamentos superlegais com nós mesmos, do tipo: “Que idiota eu fui”, “Que covarde”, etc. Eu confesso: era mestra em fazer isso comigo. Só que, da última vez que relembrei essa história do Victor, resolvi dar um tempo nessas críticas.

Depois de refletir por alguns momentos enquanto comia musse de maracujá, (adoro refletir com musse de maracujá), cheguei a duas conclusões que me pareceram bem óbvias:

1) É perda de tempo xingar minha versão passada. Afinal, não posso fazer nada em relação às coisas que já passaram (de novo, se você pode, desculpe). E, principalmente,

2) É injusto fazer isso comigo mesma.

Quando olho pra trás, vejo minha versão de agora, 2.0, fazendo naquelas situações. Só que tomando atitudes diferentes. Quem fez aquelas coisas, foi a pessoa do passado, a versão 1.0. Então, é, no mínimo, uma maldade comigo mesmo (e uma inverdade!) olhar meu passado como se o eu de agora o estivesse vivendo. No começo do ano, coisas que me parecem mais fáceis hoje, eram complicadas. Da mesma forma, espero que, daqui a alguns anos, a minha versão 3.0 tenha qualidades que eu ainda não tenho. E aí? No futuro, vou xingar a minha versão de agora, sendo que estou tentando fazer o melhor?

Se você tem o hábito de olhar pra trás e ver que poderia ter feito várias coisas de um jeito diferente, legal: acho que é quase inevitável fazer isso. Mas, se tem o hábito de se detonar nessas horas, como eu tinha, pense nisso. A pessoa que você foi, para o bem e para o mal, não é quem você é agora: tenha paciência com ela, coitada. E, afinal de contas, foi sendo ela que você acabou sendo quem é hoje. Acho que o negócio é bancar o que a gente fez. Não acha? E, principalmente, tentar fazer sempre o melhor que podemos, para, no futuro, nos lembrarmos disso: que, naquela época, dispondo dos recursos de que a gente dispunha, demos o nosso melhor.

(Mas fico pensando se aquela bocó que eu era não podia mesmo ter criado coragem pra falar com o Victor e... ok, parei!)

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Uma tristezinha gostosa

Ficar triste é ruim. Ficar feliz é bom. A gente aprendeu isso há tanto tempo que fica até meio estranho discordar. São verdades tão verdadeiras quanto dizer que chocolate é gostoso (se você é diabético, desculpe). E eu não vou ser louca de criar caso. Amo ficar alegre e acho chatíssimo me chatear com alguma coisa. Até aí, tudo bem. Mas onde entra aquela tristeza gostosinha, que às vezes invade a gente? Calma, vou explicar.

Não estou falando que tristeza é necessário, importante e tal. Isso você já deve ter reparado. Se você terminou seu namoro ou brigou feio com alguma amiga, você sabe que, até se sentir bem de novo, vai ter que agüentar a dor. Se você se decepcionou com alguém, depois vai acabar vendo como aprendeu com aquela situação, por mais que tenha sofrido na hora. Ninguém escapa de ficar triste às vezes e, se alguém diz que nunca fica triste com nada, tendo a acreditar seriamente que esse alguém está mentindo. Ou é que é bobo, mesmo. Porque como vamos crescer, mudar e amadurecer sem passar de vez em quando por aqueles momentos-bola? Chamo de momentos-bola aqueles em que a gente sente que tem uma bola aqui dentro, que sobe e desce, apertando ora nossa garganta, ora nosso coração. É um saco, é triste, mas, quando passa, a gente vê como foi bom. Ou não, né? Como diria uma amiga minha, há mal que vem pra bem. Minha mãe diz isso também. Mas essa minha amiga é bem pessimista, sabe. E, além do mais, esse post não é sobre ela. Então, continuando com a minha visão otimista, porque é nela que eu acredito: momentos-bola são superválidos. Sempre!

Mas, apesar de ter gastado um parágrafo inteiro, não é dessa necessidade da tristeza que estou falando, meu ponto, aqui, é aquela tristezinha gostosa, sabe. Aquela do título. Aquela que, de longe, se você olhar com certo distanciamento, parece até alegria.

Uma vez, quando uma amizade minha acabou, fiquei muito mal. Muito mesmo. Não era uma bola que tinha dentro de mim, mas o globo terrestre inteiro. Bom, um dia, no meio dessa tristeza toda, fui preparar um macarrão. E aí, lá pela terceira garfada, comecei a chorar. Só que, no meio do choro, olhei pra essa cena, como se eu estivesse olhando fora, sabe. Como num filme. E pensei: “Credo, estou comendo macarrão e chorando. Eu estou triste MESMO”. E acabei dando um sorrisinho. Um sorriso meio triste, claro. É isso que estou querendo dizer com o título. E com o post inteiro.

Às vezes, vivemos tão no automático que esquecemos que somos vulneráveis à vida. E é tão legal ser vulnerável. Nessa hora, não importam aqueles questionamentos sobre a existência de Deus, vida após a morte e coisas assim: no momento da tristeza, tudo faz sentido. Porque, naquele momento, nos importamos muito com alguma coisa. Nos importamos a ponto de... Chorar comendo macarrão. Aí a gente aperta nosso braço e pensa: nossa, eu estou viva.

Tá, a gente não precisa realmente apertar nosso braço pra saber que estamos vivas, mas você entendeu, né?

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Procura-se a verdade

Uma amiga minha tem certeza de que está sempre certa. Do conselho para alguém que acabou de terminar um namoro às melhores estratégias para ir bem numa prova: ela tem a chave de tudo. Ou acha que tem, né. Enfim. Outro dia, começamos uma dessas discussões que a gente sabe que não vai levar a lugar nenhum, mas dá o sangue nela (Certo, exagerei). Ela, claro, tinha certeza de que estava com a razão, e eu, bem, er… eu também. Discussão vai, discussão vem, e eu me lembrei da placa do cachorro.

Calma, vou explicar. Um dia, eu estava andando serelepe pela rua, quando vi um poste com um desses avisos assim: “Dona desesperada procura seu cachorro, cor tal, nome tal etc.”. Não sei por que, logo imaginei que louco seria encontrar uma placa assim: “Dona desesperada procura a verdade, tamanho tal, sobre tal assunto, etc.”. Aí eu mesma ri da minha divagação idiota (Tenho várias, ok? Assumo!). Idiota por dois motivos. Primeiro, porque é idiota e pronto. Segundo, porque a verdade não tem dono, né? É muito triste quando a gente percebe isso, mas fazer o quê? Também odeio que chocolate engorde e que chova nos finais de semana, mas as calorias e a chuva estão aí.

É claro que, quando a gente percebe isso (que a verdade não tem dono, caso você não esteja prestando atenção), é normal pensarmos logo em seguida: “Bem, então é a festa da uva! Todas as opiniões são válidas, uhu!” Que dez da manhã é o melhor horário para comer abacate, que namoros devem durar 78 dias, que Deus existe e tem formato de girassol e que todas as pessoas que comem cereal de manhã são volúveis: tudo estaria no mesmo saco. Bom, não é beeem assim, né. Você já deve ter reparado que as opiniões não vêm do nada: tem coisas que as fundamentam.

Um agricultor vai dar um parecer melhor do que eu sobre, sei lá, plantar tomates, e quem se informa terá mais argumentos sobre as eleições do que quem não sabe o que está acontecendo. São opiniões mais bem fundamentadas, digamos, embora isso não signifique que estejam certas. Mas, para complicar um pouco, acontece de as opiniões serem bem fundamentadas para uns, mas não para outros, já que eles usam critérios diferentes para definir qual fundamento vale: o agricultor argumenta usando a técnica, um religioso fala que o melhor é aliar a técnica à oração, uma astróloga garante que não nasce nada enquanto Júpiter permanecer retrógado e um incrédulo diz que não existem tomates e tudo é uma ilusão. Ai, ai! Assim caminha a humanidade: todos brigando pela tal posse da verdade.

Voltando à minha amiga: no fim, não concordamos em tudo, mas chegamos a várias conclusões em comum. Como critério, escolhemos demonstrar racionalmente nossos argumentos: um fala, o outro rebate e assim vai por algumas horas. Que bom seria se fosse simples assim com a humanidade também, né? Mas não dá. São muitas pessoas e muitas opiniões, além de critérios, culturas e crenças diferentes. Quer dizer, isso é o que eu acho. Minha amiga tem certeza de que o mundo só vai levar mais algumas horas, ou melhor, alguns séculos, até tudo melhorar. Aliás, era sobre isso nossa discussão. O que você acha?

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Conhece-te a ti mesmo (como se fosse fácil!)

Hoje, no centro (sim, tão cedo, puf), uma menina de uns 15 anos me parou para perguntar pelo endereço tal. Depois que respondi, ela comentou, toda empolgada: “Que bom que é perto! Vou a uma agência de modelos, sabe?” Fiquei com aquilo na cabeça. É que... a menina não tinha o biotipo de modelo. Ela era baixa, não muito magra, o rosto era meio assim... Bom, aí vai: ela não era bonita. Me perguntei: e se ela tentar ser modelo por anos? De que adianta determinação se não temos jeito pra coisa? Mas... Como saber se a gente é mesmo o que a gente acha que é?

Na estou falando só de profissão. Todos os seus namoros terminam por causa da sua histeria, mas você se acha zen? Ou, você teima que o mundo é injusto por te achar chata, quando, na verdade, você costuma ser chata? Nem sempre a gente tem noção das nossas qualidades e dos pontos que podemos melhorar (se desejamos fazer amigos, namorar, essas coisas da vida em sociedade). É difícil acertar na dose de autocrítica – ou a gente tem demais e vive se detonando, ou tem de menos e, mesmo não fazendo o estilo modelo, já está de malas prontas para a temporada em Milão.

Pra piorar a história, nossa autocrítica não costuma ser a mesma em áreas diferentes. Você pode duvidar do seu jeito pra desenhar, mas acha que ninguém manja tanto de, digamos, história da literatura francesa do século 19. Pra piorar ainda mais (desculpe, mas é dever do blogueiro inventar desdobramentos!), nem sempre acertamos em qual área arrasamos. Tipo: você é boa em história da literatura... Mas, espera, você desenha muito bem! Você não vê que pode se dedicar mais a isso e fazer sucesso? O ponto, sem querer voltar para o parágrafo anterior, é que é difícil conhecer nossos limites e nossas possibilidades.

Claro, sua mãe pode ajudá-la no seu autoconhecimento, assim como suas amigas. Mas não é suficiente. Se elas acham que todos os desenhos do mundo são parecidos, vai ser difícil avaliarem se você leva jeito pra coisa. Pode ser também que elas não queiram magoá-la. E pode ser que estejam ocupadas vendo novela. Sem querer dar uma de cdf, o prefixo de autocrítica, “auto”, significa que ela vem de você. Por mais que botem pilha no que você é/deixa de ser/faz, é daí de dentro que tem sair essa consciência. Então, tire essa consciência daí! Tire! Tire!

Calma, melhorar o autoconhecimento leva tempo. É um processo longo, mas que vale a pena: é mais fácil ser feliz e aproveitar as oportunidades quando a gente se conhece melhor, certo? Tenho muito mais noção do que terei daqui a dez anos. Como diz minha tia Rosa, o segredo é deixar o tempo passar, estar sempre aberta ao aprendizado e quebrar a cara algumas vezes! Tudo bem, confesso: minha tia nunca disse isso. Mas é uma conclusão legal, vai.