terça-feira, 2 de novembro de 2010

Eu quero, eu posso... eu consigo?

Eu não tinha nenhum preconceito com livros de autoajuda, mas também nunca tinha lido um. Não que eu quisesse me autoajudar, mas já fiz terapia, sempre leio meu horóscopo, já deu, né? Acontece que, nesses dias que fiquei sem escrever, fui na casa de uma amiga que estava superempolgada com um livro desses. Não lembro o nome, mas era algo como “Encontre sua estrela interior”. Ela só sabia falar que a estrela dela era isso, que a estrela dela era aquilo. Aí resolvi dar uma folheada no livro. Afinal, essa sabedoria deveria ser mesmo estrelar.

Logo nas primeiras páginas, fiquei irritada com a quantidade de regras do livro. Parecia minha mãe, quando eu tinha 7 anos (não que ela tenha mudado muito de lá pra cá). Fiquei meio com antipatia, sabe? Mas continuei lendo. O autor tinha todo um sistema de normas que eu não sabia de onde vinham, mas ok, eu também não entendo astrologia e leio meu horóscopo. O que me incomodou mesmo foi essa coisa de “eu quero, eu posso, eu consigo!”. Parece que todo mundo que usa a tal da estrela interior tem que ter a autoestima elevada, entendendo que pode e consegue tudo, e, se não puder/conseguir, é porque está faltando pensamento positivo e tal. Pera lá. Que cobrança é essa? E desde quando pensamento positivo virou solução pra tudo?

Eu não sei/posso tudo. Na verdade, sem querer pagar de humilde nem nada, estou bem longe disso. Além de não poder voar nem respirar debaixo d’água, não consigo fazer várias contas de cabeça ou passar numa prova sem estudar – e, mesmo que eu estude, pode ser que no fim eu acabe não passando, ué. Não posso ser mais bonita que a Gisele Bündchen, não consegui evitar alguns pés na bunda ao longo de um ano... Mas e daí?

Eu não sei muito bem o que é felicidade (como eu disse no primeiro post desse blog), mas nunca achei que é feliz quem pode e consegue fazer tudo (aliás, essa pessoa mágica teria que viver num tempo infinito, pra conseguir fazer tudo!). Quanto ao pensamento positivo, realmente ele é incrível, mas calma lá, né? Se você se esforçar e pensar positivamente, ainda assim pode se frustrar em algumas situações (porque seu esforço não bastou, porque não era pra ser, sei lá por que). Terminando, acho que essa coisa de poder tudo tem mais a ver com autoilusão. Posso muito bem me amar tendo consciência dos meus limites, não? Amo minhas amigas, e elas são tão limitadas! Brincadeira! Não sei você, mas sinto um alívio danado quando penso que não tenho a menor obrigação de acertar sempre.

Fechei o livro desanimada com minha estrela interior. Não vou dizer que nunca mais folharei nenhum livro de autoajuda, mas, desses que partem do pressuposto de que temos que nos achar o máximo para gostarmos de nós mesmos e conseguirmos o que queremos, dispenso. Deve ser bem frustrante esbarrar em algum obstáculo quando você se acha a rainha da cocada preta. E, como você já deve ter percebido, vira e mexe a gente esbarra em algum obstáculo: eu, você e nossas estrelas interiores. E tudo bem se, nessa hora, a gente chorar e perceber que não somos perfeitos, nem nós, nem a vida. Quem disse que não há beleza na imperfeição?

2 comentários:

  1. Asuhuashauhaushas...

    adooooooooooooro vc Anna.
    vc fala tudo que todo mundo quer dizer, mas não tem coragem.
    hehehe...

    =**

    ResponderExcluir
  2. Isso é parecido com um placebo, algumas pessoas com mais dificuldade de incentivo veem esse livro como a salvação divina. Quando na verdade é apenas algo artificial para elevar seu astral. A maioria de nós já tem esse "remédio" para o tédio dentro de nós mesmos.

    ResponderExcluir