segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Os outros e as mudanças

Outro dia, reencontrei uns amigos do antigo curso. Papo vem, papo vai, começamos a nos lembrar de casos sobre nossa colega R. Nossa, ela era terrível. Ela tratava todo mundo bem, mas, quando a gente menos esperava, lá estava ela fazendo coisas de filme, tipo falar pro cara mais feio do curso que você é super afim dele. Ela fazia tudo com a maior cara e inocente, tipo “Ops, eu disse isso? Que cabeça a minha”, deixando todos confusos. Enfim. Começamos a nos perguntar por onde anda a R. e, quando vimos, estávamos fazendo comentários fofos, como “ela deve estar trabalhando como serial killer”. Mas, a uma determinada altura da noite, percebemos uma coisa: esses casos terríveis sobre a R. não aconteceram semana passada. Aconteceram há mais de 1 ano! A questão é: quem disse que a R. não pode ter mudado de lá para cá?

Você já deve ter percebido que tem uma incrível capacidade de mudar: de ideia, de estilo de roupa, de opinião, de tudo. Todas as pessoas mudam o tempo todo – a não ser que tenham uma vida bem entediante. Nossas experiências, leituras e conversas vão alterando nosso jeito de ser, de ver, de pensar.

Mas se, por um lado, reconhecemos nossas mudanças e até nos orgulhamos de algumas delas, por outro percebo que temos uma tendência a achar que os outros continuam os mesmos. Puxa, em mais de 1 ano, é claro que a R. pode ter mudado seu jeito de ser. Ela pode ter feito terapia, ela pode até ter se mudado para o Tibete, onde passa os dias meditando: faz tanto tempo que não temos notícias dela! É no mínimo pretensioso pensar que ela é estática, enquanto eu e meus amigos estamos aqui, superdinâmicos, tentando nos aperfeiçoar e tal – não sei você, mas eu tenho pavor de pensar em viver sem fazer isso. Verdade que considero o passar do tempo não uma linha contínua para o alto e avante, mas uma curva cheia de avanços e retrocessos – mas, de qualquer forma, luto para ser uma velhinha sábia no futuro!

Voltando: acho que a gente também tem a péssima mania de achar que desenvolvemos talentos ao longo do tempo enquanto os outros não melhoram. É meio injusto achar que aquela garota que hoje é atriz deve atuar mal porque atuava mal na escola, ou que o fulano que, sei lá, não sabia trabalhar em equipe da última vez que o vimos continua sem saber. Não é só a gente que aprende, vai.

Fico pensando: se achamos que as pessoas não mudam, como dar uma nova chance a elas: se eu encontrar a R. na rua um dia, preciso mesmo olhar pra ela pensando na psicopata que ela foi a um tempo atrás? Claro, ela pode, digamos, ter aprendido a desenhar, mas não ter mudado muito no quesito confiabilidade e, sei lá, tentar roubar meu namorado (embora eu não tenha um no momento). Mas fico achando que é muito melhor dar uma chance de ver quem é a R. de agora e parar, inclusive, de olhar pra ela pensando em palavras como “psicopata”. As pessoas nos surpreendem o tempo todo, e acho maravilhoso nos abrirmos para as mudanças delas. Claro, não preciso deixar meu futuro namorado perto dela enquanto faço essa experiência, mas você entendeu.

4 comentários:

  1. Acho que não devemos ficar parados a apenas um conceito de uma pessoa, concordo plenamente, temos que nos adaptar a seu jeito sempre. Para uns essa transição é fácil e tranquila, para outros nem tanto.

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  2. Verdade, todas as pessoas mudam o tempo todo, eu mudo quase todo dia. kkk.
    Vooc escreve super bem Anna.
    Parabéns pelo blog, super lindo.
    Beijo.

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